Para encerrar esta semana especial depois das eleições americanas, acho válido buscar um caminho para entender os rumos da política para o Oriente Médio a partir das grandes mudanças em curso. Na verdade, não há qualquer consenso sobre os caminhos que os republicanos devem adotar após o voto de confiança que restabeleceu ao partido parcela de poder considerável desde a eleição de Obama. Mas vale dizer que não necessariamente as escolhas serão óbvias.
É importante ter em mente que o Tea Party não se dedica à formação de um pensamento internacionalista americano com o mesmo empenho com que debate suas principais plataformas de luta (corte de gastos do governo e redução de impostos). Por isso determinar suas ações em relação à política externa é, neste momento, especulação.
Em relação ao Oriente Médio, acredito que Obama continuará a pressionar Israel a retroceder na construção de assentamentos na Cisjordânia porque este é um tema que interessa à sua carreira política e que, no imaginário popular mundial, pode valer a realização de alguns dos aspectos mais marcantes de sua campanha: mudança e esperança.
Enquanto seria lugar-comum acreditar que os israelenses estariam satisfeitos com a vitória republicana, é bom notar que tal satisfação talvez esteja restrita ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
"No final das contas, um presidente fraco significa que os EUA também estarão fracos", diz Oren Nahar, editor internacional da Rádio Israel.
A fraqueza a que ele se refere é a mesma que pode satisfazer o premiê israelense; sem a pressão de Obama sobre negociações com os palestinos, teoricamente Netanyahu poderia se concentrar no ponto de sua agenda internacional que mais lhe interessa e onde se sente mais confortável: a discussão sobre o programa nuclear iraniano e a articulação de um ataque às instalações atômicas da república islâmica – empreitada militar que, se levada adiante, contaria com no mínimo auxílio logístico americano.
Mas é importante lembrar que é pouco provável que Jerusalém vire as costas para Washington e decida atacar o Irã sem contar com a aprovação da Casa Branca. Antes que se afirme que o apoio republicano a Israel é óbvio, é preciso levar em consideração alguns pontos: o sinal verde americano passaria pela aprovação de Obama – e os fatos até o momento não levam a crer que o presidente daria tal aprovação – e o republicano George W. Bush, ainda como ocupante do cargo, chegou a ser consultado pelos israelenses e pediu ao então primeiro-ministro Ehud Olmert para não concretizar o ataque.
Além disso, ninguém sabe exatamente como os republicanos ligados ao Tea Party imaginam conciliar o discurso de redução do papel do Estado e cortes do orçamento com o setor de Defesa. As posições são as mais diversas. Alguns de seus mais notáveis membros – como Sarah Palin, por exemplo – não admitem reduzir verbas militares. Mas Mark Meckler, um dos fundadores do movimento, transparece disposição de discutir o assunto num estudo orçamentário mais amplo. Não há consenso, portanto.
2 comentários:
Tradicionalmente, qualquer presidente americano que tenha favorecido cortes de despesas públicas foram radicalmente contrários a diminuições nas despesas militares. O presidente estadunidense que mais enxugou a máquina pública do governo federal foi também o que mais AUMENTOU os gastos militares em tempos de paz: Ronald Reagan (embora não tenha sido tempo de paz em Granada). Os cortes nos gastos públicos de Ronald Reagan foram todos nas áreas de Educação, Saúde e Previdência, oque fez a fortuna de mega-empresários do ensino, da saúde e da previdência privada mas piorou a miséria das gigantescas camadas pobres nos EUA (na política econômica conhecida por "Reaganomics"). Enquanto o Tea Party atuar como grupo da sociedade civil espontâneo que os norte-americanos chama de "grassroots movement" (se é que ele pode ser considerado como tal em qualquer nível) ele pode até querer cortes universais de gastos públicos, como se colocou Mark Meckler, mas como massa de manobra para eleger o sacripanta de plantão do Republican Party para a Presidência dos EUA, é fato que eles elegerão um presidente mais do que disposto a manter ou mesmo aumentar as despesas bélicas e assegurar uma outra situação inflacionária e de incerteza econômica como a que hoje nós enfrentamos. Numa república presidenecialista de eleições distritais bipartidarista, toda e qualquer eleição é plebiscitária, e afora os Democrats e Republicans nenhum partido conseguirá um só voto no Colégio Eleitoral. Desde 1964 que os votos no Colégio Eleitoral em 100% vão para um desses dois partidos. Ross Perot recebeu em 1992 19% dos votos diretos, mas não levou um único voto no Colégio Eleitoral, que é quem decide a parada. Pros israelenses, a dependência nos Estados Unidos os fará eternos reféns da alternância interminável entre aqueles que querem induzi-los a um modus vivendi mais estável no Oriente Médio e aqueles que os induzem a ser o perpétuo boi de piranha para o imperialismo voraz que ousa se aventurar numa região tão retorcidas pela intolerância.
Obrigado pelo voto e pelos comentários, Joseph. Vou visitar seu blog, claro.
Grande abraço
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