Não há dúvidas de que a China vai ser o grande assunto do encontro dos países do G-20 que começa amanhã, em Seul, na Coreia do Sul. Na prática, a ocidentalização da economia chinesa acabou se tornando um problema. Quando Beijing entendeu que brigar em termos iguais com as grandes potências era um projeto econômico viável, a guerra estava ganha. Isso porque a interferência do governo no câmbio interno provê ao país uma enorme vantagem em relação a todos os outros. Agora parece ser tarde demais. Não acredito que a enorme pressão que se inicia nesta quinta-feira será capaz de frear as ambições da república popular.
A China compreendeu que abrir algumas brechas poderia lhe render frutos ainda maiores. Se mantivesse a economia totalmente fechada, não competiria internacionalmente. Seus dirigentes foram espertos. Não apenas se permitiram "ocidentalizar" as áreas mais favoráveis, como também estão crescendo sem parar graças ao capitalismo de mercado. As estratégias adotadas também contaram com a leitura perfeita deste cenário.
Por exemplo, hoje o país é responsável pelo fornecimento de mais de 90% dos 17 metais e minerais que estão no coração do capitalismo contemporâneo. O material é fundamental na composição de discos rígidos, telas de plasma, bombas, turbinas e toda a sorte de equipamentos tecnológicos. Simplesmente, o planeta se tornou dependente de tais matérias-primas. Por consequência, dependente da China também. Não por acaso, as maiores valorizações das bolsas europeias na última semana foram justamente as das empresas de matérias-primas.
Este não é um evento ocasional. Beijing soube analisar as tendências e entender que colocaria os demais concorrentes no bolso a partir de suas vantagens naturais e da compra de mineradoras em todo o mundo. O regime sabe de sua força e recentemente deu mostras de que está disposto a usar a dependência internacional como forma de fazer exigências geopolíticas. Por conta da disputa com Japão e Taiwan pelas ilhas Senkaku/Diaoyu, o país anunciou, em julho deste ano, cortes na produção. Foi o suficiente para acender a luz amarela em todo o mundo.
Teoricamente, a China não pode usar tais práticas como chantagem. Segundo reportagem da Bloomberg, tal decisão fere compromissos assumidos a partir do ingresso na Organização Mundial de Comércio (OMC), em 2001. Mas aí cabe um questionamento: alguém acredita que a China seria expulsa da OMC?
O pulo-do-gato chinês é justamente investir nesta percepção ambígua que o mundo ainda cultiva a seu respeito. Se não bastasse a dependência de todo o planeta, ninguém sabe ao certo como Beijing reagiria quando pressionada por um gesto agressivo como, por exemplo, a expulsão mencionada acima. Ao manter este perfil um tanto imprevisível, também aumenta sua capacidade de ameaça internacional. É mais ou menos o que o Irã tem feito durante esses anos, com a diferença de que a China é muito superior à república islâmica em todos os quesitos.
As potências ocidentais têm tentado correr atrás deste prejuízo. A verdade é que ninguém havia levado em conta as consequências políticas do poderio econômico de Beijing até a demonstração de força no episódio das ilhas. Alguns líderes mundiais estão procurando se aproximar, casos de David Cameron, da Grã-Bretanha, e do francês Nicolas Sarkozy (que passa a ocupar, inclusive, a presidência do G-20).
Os EUA têm optado por um caminho diferente. O atual giro de Barack Obama pela Ásia também pretende "blindar" aliados diante do poderio chinês. No entanto, todos os gestos do momento são ínfimos se comparados ao status alcançado pela China de protagonista internacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário