Era só uma questão de tempo até que a onda de violência no Rio merecesse a devida atenção internacional. Como este período em que vivemos é marcado pela instantaneidade, a preferência dos veículos estrangeiros pelo Brasil era só uma questão de escolha mesmo. Esta escolha foi feita na medida em que a crise entre as Coreias parece ter sido reduzida a um episódio pontual.
Assim, o Brasil retorna às manchetes de uma maneira muito familiar. No final dos anos 1980, o país disputava cabeça a cabeça com a Colômbia o imaginário de violência latino-americana. Depois da estabilização econômica e, finalmente, dos últimos oito anos de crescimento, participação em fóruns e protagonismo até diplomático, subimos alguns muitos degraus. Não acredito que esta crise momentânea irá conseguir deslegitimar todas as boas credenciais adquiridas recentemente.
Sem a menor dúvida, no entanto, é um presente de grego para o final de mandato de Lula, presidente empenhado em tornar o Brasil ator relevante. O projeto do Itamaraty é bem sucedido, não se pode negar. Aliás, talvez por isso, até agora as reportagens de veículos do exterior não tem partido para a condenação das ações policiais. Muito pelo contrário.
"O estabelecimento das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) há dois anos testemunhou a primeira tentativa de quebrar o ciclo, introduzir as leis nas favelas e conquistar corações e mentes da próxima geração".
Ao contrário do que possa parecer, este não é um trecho de qualquer comunicado oficial do governo estadual do Rio de Janeiro, mas parte da reportagem do britânico Telegraph que pretende explicar os acontecimentos desta semana.
Como não poderia deixar de ser, há também uma comparação entre a situação de Colômbia e Brasil para justificar as medidas tomadas pelo governador Sérgio Cabral.
A maior parte das reportagens tem seguido este rumo. De certa forma, as políticas de relações públicas brasileiras podem ser consideradas efetivas porque, ao contrário do que ocorre na maioria de situações conflituosas, os grandes jornais não estão – pelo menos até este momento – questionando qualquer medida oficial. Quem acompanha os acontecimentos internacionais sabe que situações deste tipo costumam causar controvérsia.
No caso do Rio, alguns fatores talvez expliquem o momentâneo vácuo de críticas: a falta de familiaridade da imprensa e do público internacionais com a situação; e a dificuldade de acesso aos traficantes que combatem a polícia. Os grupos armados que atuam nas favelas estão a anos-luz de distância dos paralelos radicais que combatem em outras partes do planeta e que investem pesado na construção de discursos para validar suas posições.
Isso porque há grande diferença entre esses grupos. Se no Oriente Médio, por exemplo, há grande escopo ideológico por trás das ações armadas, por aqui o único interesse é manter o tráfico. Por mais que originalmente parte dos grupos armados cariocas tenha tentado se vincular a movimentos ideológicos, a prática atual deixou claro que, assim como determina a economia ocidental, o mercado é o único ente a ser venerado. Não há espaço ou interesse de misturar qualquer discurso a ele.
Não é possível dizer se a suavidade quanto ao olhar interpretativo sobre as ações brasileiras neste caso será mantida. Tudo vai depender de como a polícia e o governo – e Brasília deverá ter um papel ainda mais ativo – agirem nos próximos dias. Enquanto isso, é bom que se saiba que os estragos internacionais foram mínimos.
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