segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O envolvimento do Hezbollah no assassinato de Rafik Hariri e o futuro do Oriente Médio

A Canadian Broadcasting Corporation (CBC) investigou e deu o furo mundial do dia – e, quem sabe, do ano. Segundo o grupo de comunicação canadense, o Tribunal Especial do Líbano estabelecido pela ONU chegou à conclusão de que o Hezbollah esteve diretamente envolvido no assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri (foto). Mais tarde, o atentado à bomba que matou o líder nacionalista libanês culminaria na Revolução de Cedro, movimento popular que conseguiu encerrar a ocupação síria.

A reportagem da CBC mostra que gravações telefônicas apontam contatos frequentes entre oficiais do Hezbollah e os proprietários dos telefones celulares usados na detonação dos explosivos que mataram Hariri. Leia a matéria completa aqui.

Já escrevi em outubro passado sobre a comissão que investigava o caso (leia aqui). As consequências das descobertas podem ser gravíssimas. A posição oficial do Hezbollah – e não poderia ser outra, claro – era de que Israel teria participado do ataque. Os israelenses sempre negaram as acusações.

A divulgação das informações colhidas pela CBC deve mudar profundamente o rumo do Oriente Médio. Como se sabe, a milícia xiita libanesa recebe ajuda financeira e militar iraniana. Acuada, deve reagir muito mal. Isso significa que pode seguir dois caminhos: ou manter o empenho em deslegitimar o tribunal da ONU – o que deve ficar mais difícil agora – ou tentar até mesmo promover um golpe de Estado. Esta não é uma possibilidade remota. Nunca é demais lembrar que as forças do Hezbollah possuem mais armas e são mais preparadas que o exército regular libanês.

Além disso, é muito provável que, se optar por esta decisão, a milícia conte com ainda mais apoio dos aliados Irã e Síria. Não é difícil imaginar que os dois países ratifiquem apoio ao grupo em nome de uma suposta defesa dos interesses nacionais libaneses em confronto com Israel e EUA. Este discurso mobiliza parte considerável da opinião pública interna, além de muitos setores em todo o Oriente Médio.

Tampouco é improvável imaginar que o Hezbollah volte a adotar estratégias militares do passado recente. Acredito que, se de fato a ONU bancar as conclusões reveladas pela CBC e decidir indiciar membros do Hezbollah até o final deste ano, a milícia xiita opte por voltar a lançar mísseis sobre o norte de Israel. Como o líder Hassan Nasrallah declarou muitas vezes, o grupo teria se rearmado desde a guerra contra os israelenses de 2006 e hoje estaria em situação ainda melhor do que naquele período.

Envolver Israel num novo confronto militar atende a alguns interesses importantes: une internamente o país e mobiliza seus aliados regionais. Por outro lado, há uma grande parcela da população libanesa que não está mais disposta a pagar por tal decisão. Será preciso encontrar um modo de atacar Israel sem deixar evidente que se trata de uma retaliação às evidências apresentadas pelo tribunal das Nações Unidas. E será muito difícil levar este projeto adiante.

Travar uma nova guerra com Israel pode também precipitar um ataque israelense às instalações nucleares iranianas. Se isso acontecer, Jerusalém poderá contar com o apoio de Washington – o que não interessaria ao Irã neste momento. Por tudo isso, acho que este é o pior momento da história do Hezbollah.

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