No encontro que começa hoje, em Seul, os países que juntos representam 85% da economia mundial têm o enorme desafio de restabelecer a confiança global na competência do mercado. Não se trata de discutir a eficiência do capitalismo, mas perceber que muito de seu simbolismo ficou manchado desde a crise mundial iniciada, justamente, nos EUA. As imagens que percorrem o mundo de jovens britânicos quebrando a sede do Partido Conservador, em Londres, acabam por entrar também no bolo. Não se tratam de protestos periféricos fomentados por grupos que contestam o capitalismo ou organizações de defesa do meio ambiente, mas da revolta daqueles que deveriam representar a esperança no futuro.
Tal manifestação é digna de nota. Como já havia acontecido na Grécia, em 2008, os jovens decidiram protestar contra o violento pacote de cortes divulgado pelo primeiro-ministro David Cameron. Todo o tipo de manifestação é legítima, mas esta me parece ainda mais significativa, na medida em que representa a indignação da próxima geração de trabalhadores com a responsabilidade de pagar a conta de escolhas políticas equivocadas.
E o G-20 pode ter papel fundamental na continuidade desta polarização mundial. O fórum que se pretendia mais democrático por ampliar o antigo G-7 pode se transformar no símbolo mais perverso de uma era de muitas incertezas. Dos países-membros, só a China está rindo à vontade. Mesmo o Brasil - que se orgulha de ter conseguido reverter a certeza da crise - está preocupado porque a valorização do real não é necessariamente positiva. Pode até ser um momento feliz para a classe média continuar a se esbaldar em Miami, mas põe em risco as exportações.
Se Beijing ocupa o papel de vilão por conta do controle sobre o yuan, EUA e os países europeus não podem se sentir confortáveis. Afinal, como lembra o britânico Guardian, foram eles os responsáveis pela ideia de que o livre mercado resolveria todos os problemas da humanidade. Deu no que deu. E, pior, incentivaram a entrada dos chineses no jogo - que fizeram sua própria interpretação das regras e agora não abrem mão delas.
Aliás, os pedidos ao país asiático não se restringem somente à questão do câmbio. Todo mundo vai implorar para que a China incentive o consumo interno. Como escrevi ontem, se o regime disser que vai atender às demandas, mas, no final das contas, decidir não fazer nada, quem poderá lhe aplicar qualquer punição por isso?
O G-20 está hoje preso à própria armadilha que criou. E sem a menor moral para argumentar. Se não bastassem todas as decepções recentes com o mercado, mesmo os países que compõem o grupo acabaram por adotar as medidas que mais condenam; segundo levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), a maior parte deles optou recentemente por leis protecionistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário