quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

As armadilhas retóricas deste momento político

Com as novas dinâmicas se estabelecendo no Oriente Médio, mesmo a postura americana precisou mudar. Se durante a crise egípcia os EUA recuaram o máximo possível – primeiro pela surpresa, depois como estratégia –, é chegada a hora de bater na administração iraniana. Mas bater com cuidado, é bom que se diga. Pelo menos é o que Obama vem fazendo desde que Teerã passou a ser palco de protestos contra o regime.

Foto: Protestos em Teerã nesta quarta-feira

 

Aliás, é importante lembrar que a insatisfação de opositores a Ahmadinejad é uma lacuna muito viva desde as eleições de 2009. Há menos de dois anos, a polêmica em torno do mais recente êxito político do presidente iraniano jamais obteve resposta à altura das demandas populares – pelo menos da população urbana do país. E eis que a crise egípcia culminou por dar nova força ao movimento. Os acontecimentos no Cairo alimentam de certa maneira este novo-velho impasse no Irã pelas características similares que compartilham: exigência de reformas sociais e políticas profundas articuladas, basicamente, por estudantes e profissionais liberais urbanos integrados pelos novos meios de comunicação.

Obviamente, o Departamento de Estado americano já fez esta leitura. E o recuo de 20 dias atrás é passado. Washington julga ter adotado estratégia vitoriosa. Afinal, o argumento de Mubarak de que os protestos representavam a tentativa de interferência estrangeira do país não aplacou ânimos – e não conseguiu mantê-lo no poder.

Neste momento, os EUA decidiram ampliar – como podem e o mais discretamente possível – sua ação. Por exemplo, criaram uma conta no Twitter em persa para se comunicar diretamente com os manifestantes. É uma tentativa de surfar na mesma onda sem que o país seja acusado de estar por trás desta onda. E muita gente tem usado o termo revolução sem medo de errar, mas acho que a grande revolução em curso é este momento em que o inimigo externo é deixado de lado em nome de discussões internas sérias. Se elas serão produtivas, só o tempo dirá.

Ainda sobre a nova postura americana, é interessante esclarecer a diferença entre o que ela é e o como ela quer ser interpretada. Se Obama está tendo um enorme prazer de condenar a de fato condenável repressão oficial iraniana aos protestos, é bom deixar claro que não tem se sentido nem um pouco à vontade para fazer o mesmo em relação ao Bahrein. E os motivos são fáceis de serem compreendidos. A monarquia sunita do país é aliada dos EUA, fica logo ao lado do Irã e abriga a quinta frota da marinha americana composta de 15 navios de guerra.

Ou seja, para completar o raciocínio, a imagem que os EUA pretendem reafirmar com entusiasmo agora é que a administração do país está moralmente aliada a todos os movimentos democráticos na região. Mas, na prática, o realismo político é o norte de Washington, assim como da maior parte dos países. E os americanos não podem abrir mão dos benefícios de sua relação com a monarquia de Bahrein.

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