quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Mudanças no Egito e o diálogo entre EUA e a Irmandade Muçulmana

Todo o discurso que cerca a transformação no Egito é muito tentador. Principalmente para os muitos grupos políticos internacionais do Ocidente que tendem a se alinhar com os revoltosos. É o povo em busca de democracia, contra a opressão de um regime ditatorial apoiado pelos EUA, em luta por melhores condições de vida, emprego e educação. E, mais ainda, representa a ansiedade popular para desfazer a injusta equação política que manteve Mubarak e a elite do país lado a lado durante três décadas e em oposição às demandas da maioria da população.

Diante deste quadro, que líder mundial vai arriscar a própria imagem se colocando ao lado do presidente egípcio? Por mais que os primeiros dias tenham sido de muitas incertezas – e ainda há perguntas de sobra quanto ao futuro político do país –, neste décimo dia de protestos ninguém dúvida de que o processo de mudança é irreversível.

Mesmo as cenas de confronto violento entre os “aliados” de Mubarak e a multidão de manifestantes não serviram como sinal de retrocesso. Principalmente porque há informações de que o próprio presidente egípcio estaria por trás da organização e recrutamento forçado de militantes políticos – muitos deles, inclusive, seriam funcionários do governo e empregados da empresa petroquímica estatal.

E por falar em mudança, os eventos seguramente irão marcar uma profunda revisão da política externa americana. O que ninguém esperava que pudesse acontecer vai se tornar realidade num movimento de fora para dentro. O autointitulado presidente da mudança será obrigado a rever posições americanas até hoje inquestionáveis. A mais importante delas: Obama será obrigado a travar algum tipo de diálogo com a Irmandade Muçulmana. O grupo certamente estará de alguma maneira representado no novo governo egípcio. Como as revoltas são populares e pesquisa do Pew Research Center aponta que 95% dos entrevistados avaliam positivamente o islamismo político, logo não há para onde fugir.

 
E a relação entre EUA e organizações islâmicas de discursos inflamados – como a Irmandade Muçulmana, grupo que inspirou ideologicamente Hamas e al-Qaeda, para citar os exemplos mais conhecidos – representará um esforço gigantesco para ambos.

Sim, porque se Washington vai ter que ceder a este fato quase consumado, os islamismo político e muitas vezes radical vai precisar se violentar, engolir a seco e dar aos americanos alguma demonstração de flexibilidade. Seguramente, já institucionalizados no governo, seus membros não vão poder sentar sobre louros e simplesmente abrir mão da ajuda financeira de 1,5 bilhão de dólares enviada anualmente pelos EUA. Até porque o Egito enfrenta grandes dificuldades econômicas e institucionais. A Irmandade Muçulmana vai precisar assumir algum tipo de compromisso com os americanos. Por mais constrangedor que isso seja.

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