terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Caos e violência na Líbia: ONU faz questão de se "esquecer" das próprias responsabilidades

Se não for possível manter o status quo, a situação de caos generalizado na Líbia favorece principalmente o ditador Muamar Khadafi. Aliás, este é o objetivo dele. Sempre é importante lembrar que seu maior apego é ao cargo que ocupa. Portanto, mostrar que sem ele na função de comandante supremo do país a situação tende a piorar atende plenamente a esta estratégia. É isso o que Khadafi pretende fazer. Vamos aos fatos:

Quanto mais dividida a Líbia estiver, maior a chance de uma guerra civil. Num eventual cenário de conflitos internos entre as muitas tribos que compõem a população (como informado com exaustão pela grande imprensa), a tendência é de aumento do número de mortos – cenário que não agrada a ninguém, principalmente à ONU e potências com direito a assento no Conselho de Segurança. E estabelecer o caos na Líbia não é tão complicado, como mostra o colunista de inteligência da revista Time, Robert Baer.

Segundo uma de suas fontes próxima ao governo líbio, Khadafi cogita a possibilidade de sabotar as próprias instalações responsáveis pela extração de petróleo, ordenar a libertação de milhares de radicais islâmicos que até agora estavam presos e chantagear países da Europa sob o argumento de que uma onda de imigrantes ilegais pode tentar furar o controle estabelecido pelo próprio ditador.
 
E se há atualmente grande preocupação justificada com a população líbia, esta mesma comunidade internacional pode ser questionada por anos de incoerência. O comportamento de Khadafi de sacrificar os próprios civis em nome da permanência no cargo não surpreende porque não há nada de novo neste padrão. Aliás, numa prova de coerência mortal entre discurso e prática, o líder líbio simplesmente dá continuidade à violência de sempre. Como recorda o Jerusalem Post, em 1996 o regime promoveu o massacre de cerca de 1,2 mil opositores políticos.
 
E aí é um tanto curioso assistir à hipocrisia internacional quando a Corte Penal Internacional e o Conselho de Direitos Humanos da ONU se manifestam – com justiça, diga-se de passagem – com firmeza contra a violência imposta por Khadafi. A questão é: por que isso não foi feito antes? Por que este mesmo Conselho – estabelecido em 2006 – não fez qualquer menção aos acontecimentos na Líbia? Por que das suas 50 resoluções não há nenhuma direcionada a Khadafi (Israel é alvo de condenação de 35 delas)? Por que, em 2010, a Líbia passou a figurar entre os membros deste mesmo Conselho de Direitos Humanos?

De certa forma, o ditador líbio tem todo o direito de se sentir traído. O recado internacional enviado a ele claramente era de que poderia fazer o que bem entendesse, o Conselho não iria interferir em seus assuntos internos. Afinal, o foco dos problemas mundiais parecia ser exclusivamente Israel. A ambiguidade deste momento é que a ONU e as demais organizações subordinadas a ela agem como se ninguém fizesse qualquer questão de resgatar suas decisões recentes. E suas muitas incoerências.

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