sexta-feira, 4 de março de 2011

Carnaval e o recuo estratégico americano

O carnaval das relações internacionais será bastante interessante. Se possivelmente neste ano a popularidade da máscara de Obama deve perder para a de Ronaldinho Gaúcho, são grandes as chances de os blocos de rua líbios animarem ainda mais os eventos no Oriente Médio. Como estarei voluntariamente isolado num lugar onde internet e celular são artigos sem qualquer função – porque o sinal é inexistente –, meus dias de folia serão embalados pela trilha sonora do Clube da Esquina e por grupos indie de jovens deprimidos. Volto a escrever na próxima quinta-feira.

foto: refugiados líbios aguardam autorização para cruzar a fronteira com a Tunísia

Enquanto isso, a atuação internacional segue pelo caminho da discrição. É claro que tudo pode mudar no intervalo de uma semana, mas com tantos entraves a uma intervenção clássica na Líbia, mesmo os EUA parecem dispostos a exercer o que se chama de diplomacia leve. Como ficar de braços cruzados não é uma opção, Washington decidiu atuar quase como uma ONG de grande orçamento, digamos assim: disponibilizou aviões militares para transportar egípcios de volta para casa – um contingente populacional que se refugiou na fronteira da Líbia com a Tunísia.

E mais: os EUA têm contribuído com o envio de equipes de ajuda humanitária para cooperar com funcionários das Nações Unidas que trabalham na região. Este pacote de medidas é uma forma inteligente de agir diante das incertezas. Afinal, como ninguém sabe qual o resultado prático das revoltas – para ser mais claro, qual o olhar dos novos governos que vão emergir após tantas mudanças –, Obama pôs em prática um modelo de atuação internacional que talvez reflita parte das expectativas criadas por sua eleição, em 2009.


Se há críticas históricas às intervenções militares, Washington aproveitou a oportunidade criada pela indefinição do momento para aliar duas estratégias interessantes: recuar e ao mesmo tempo estar presente no cenário dos acontecimentos de maneira discreta. Transportar egípcios de volta para casa é uma maneira de reconhecer os cidadãos comuns como os legítimos representantes do país. É também uma forma de estender a mão ao novo governo, buscando um estreitamento de laços com o regime. E, para completar, os EUA deixam claro que não estão dispostos a lutar contra a posição da comunidade internacional. Pelo menos não neste momento.

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