De volta ao Oriente Médio. A tão sonhada onda de democracia regional estacionou e parece restrita até agora somente à Tunísia e Egito. E, aliás, não está nem um pouco evidente que os novos governos se transformarão em exemplos de secularismo ocidental. Há um grande mal-entendido na classificação dos países da região. O engano principal deriva do fato de a interpretação ser sempre um tanto etnocêntrica. O Ocidente possui suas próprias expectativas para o Oriente. Por si só, este é o primeiro sintoma a provocar fracasso e frustração.
É preciso ter claro que, aconteça o que acontecer, é muito pouco provável que Tunísia, Egito, Líbia, Bahrein e demais se transformem em EUA, Alemanha, Grã-Bretanha ou qualquer outra democracia ocidental. E é natural que Estados até então autocráticos demorem a encontrar seu próprio rumo. Afirmar que democracia é o ponto-alto da evolução é um tanto perigoso. Principalmente porque denota uma visão onde o Ocidente é o símbolo mais bem-sucedido da experiência humana.
Se por esses lados nós encontramos na democracia um sistema que nos atende, as populações dos países do Oriente Médio têm uma visão distinta. E não porque elas também não esperam com ansiedade liberdade de imprensa, eleições justas, ocupantes de cargos executivos com mandatos temporários, mas porque o termo democracia é, até agora, uma simples ideia sem aplicação prática, um conceito meramente.
“Em muitos casos, sociedades árabes modernas associam secularismo a regimes pós-coloniais autoritários que reprimiram suas populações em nome do nacionalismo árabe secular”, escreve Nader Hashemi, professor de Estudos Internacionais da Universidade de Denver, nos EUA.
E como ensina Charlie Sheen, maniqueísmo é para os que não têm a capacidade de entender qualquer nível de subjetividade. Num cenário de atração e repulsa, mesmo rebeldes e ditadores do Oriente Médio procuram ajuda internacional. Todos os parágrafos anteriores poderiam levar a crer que os países da região pretendem pôr em prática independência total em relação a europeus e americanos. Isso não é verdade. Tanto que, no caso específico da Líbia, autoridades pró-Khadafi e líderes rebeldes procuram alianças internacionais.
O mundo conectado exige uma alta dose de pragmatismo. E ao buscar alianças com europeus – no caso dos rebeldes, principalmente de França e Grã-Bretanha –, os líbios detonam qualquer visão linear e uniforme sobre a posição dos árabes. Se os grupos anti-Khadafi têm implorado a franceses e britânicos que coloquem em prática planos militares para depor o ditador do país, a posição da Liga Árabe, de Irã e Turquia é completamente oposta.
Mesmo assim, todos os atores envolvidos encontram uma maneira de diálogo com o exterior. Mesmo que isso signifique oposição, enviar mensagens aos ocidentais é, por si só, uma forma de legitimar o cenário complexo atual onde nenhum homem é uma ilha.
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