O mundo está determinado a dar ponto final ao uso de energia nuclear. Há uma onda de reflexão e boa vontade que coloca governos e entidades públicas e privadas dispostas a substituir todas as matrizes energéticas tradicionais por outras menos poluentes. A justificada comoção em torno da tragédia japonesa tem provocado manchetes que dão conta da imersão mundial na “Era de Aquarius”. Como costuma acontecer, é preciso refletir e buscar dados antes de fazer afirmações bombásticas. E quando se pesquisa com um pouco mais de dedicação, chegamos à triste conclusão que não será nada fácil mudar a forma como a humanidade produz a energia da qual nos tornamos completamente dependentes.
O primeiro dado é bastante circunstancial: neste momento, há 220 usinas nucleares em construção no planeta. O investimento é tão alto que simplesmente colocá-las abaixo não é uma opção. Mesmo sendo críticos deste tipo de fonte energética, os EUA não consideram a possibilidade de abrir mão de suas próprias usinas. Tanto que o orçamento americano prevê garantias de empréstimos no valor de 36 bilhões de dólares a empresas privadas dispostas a investir no setor. A questão agora é saber se haverá empresas com poder econômico dispostas a arriscar num momento em que a humanidade teme os efeitos de mais uma hecatombe.
Se há um lado positivo nisso tudo, é perceber que a discussão interna nos EUA aumentou. Se a posição da Casa Branca sobre aquecimento global é discreta, os eventos no Japão têm impulsionado o debate quanto a novas fontes de energia. Mas isso não é suficiente.
O fato é que o mundo não pode continuar a existir da mesma maneira abrindo mão das usinas nucleares. É triste, não deveria ser dito neste momento difícil, mas é a verdade, lamentavelmente. Por exemplo, o fornecimento de 26% da eletricidade da maior economia europeia, a alemã, depende das usinas nucleares. Numa mostra de que discurso político e realidade muitas vezes são desconexos, a chanceler Angela Merkel decretou moratória de três meses no plano de desenvolvimento do setor. Segundo especialistas ouvidos pela Der Spiegel, os efeitos desta medida popularesca podem provocar o aumento de mais de 10% dos preços cobrados ao consumidor por eletricidade.
E não apenas isso. Um ótimo artigo de Bradfor Plumer, editor da The New Republic, mostra como é complicado levar a cabo a ideia de substituir todas as matrizes “sujas” por limpas. Simplesmente, o conceito de vida que temos hoje teria de mudar completamente. O mundo sem a mesma quantidade de energia se transformaria num outro mundo – um mundo onde publicitários, consumidores e empresários não estão dispostos a viver. Plumer cita pesquisa dos professores Mark Jacobson e Mark Delucchi. O resultado é realista. A pesquisa se trata, na verdade, de um exercício em que a humanidade precisaria, até 2050, extrair 100% da eletricidade consumida de fontes limpas existentes hoje.
“Precisaríamos de aproximadamente quatro milhões de turbinas de vento de cinco megawatts (a China acabou de construir a primeira delas no ano passado). Também seriam necessárias 90 mil fazendas solares de larga-escala – hoje, só existem cerca de três dezenas delas. Mais 1,7 bilhão de sistemas solares de teto de três kilowatts – o que representa um para cada quatro pessoas no planeta. Para os autores, o desafio principal seria encontrar metais raros – como o neodimium – para todos esses motores elétricos”, escreve.
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