Há uma grande confusão em torno das operações que a coalizão vem conduzindo na Líbia. Mesmo com objetivos um pouco mais claros em relação às intenções dos ataques da chamada aliança internacional, o apoio demonstrado pela aprovação da resolução 1973 no Conselho de Segurança da ONU ainda não se traduziu em atitudes engajadas. Certamente, principalmente EUA, França e Reino Unido esperavam que mais países decidissem aderir aos esforços militares. E isso ainda não aconteceu.
E não aconteceu devido a este momento geopoliticamente confuso no Oriente Médio. Por exemplo, a própria Liga Árabe mostra profunda ambivalência em suas posições. Se antes do primeiro míssil atingir Trípoli a organização se mostrava favorável ao estabelecimento de uma zona de exclusão aérea sobre o território líbio, após o início da ofensiva o secretário-geral Amr Moussa (foto) passou a condenar os ataques. É claro que há alguma distância entre colocar em prática uma zona de exclusão aérea e partir para uma guerra aberta na Líbia. Mas é preciso lembrar que, teoricamente, a preocupação do Conselho de Segurança era proteger a vida de civis, que têm sido atacados, olha só, pelos aviões de Khadafi. Portanto, para evitar que isso continue a acontecer, é necessário algum embate militar.
Moussa não ignora esses dados, mas parece muito mais preocupado com suas pretensões políticas no Egito, onde planeja ser candidato à presidência do país. Como discuti tantas vezes durante as manifestações populares no Cairo, jamais houve sinalizações quanto a qualquer tipo de simpatia aos EUA. Muito pelo contrário. Os mesmos egípcios que lutaram pela queda de Hosni Mubarak não esquecem o apoio histórico da Casa Branca ao presidente deposto.
É claro que a Liga Árabe não é uma mera expressão das ambições políticas de seu secretário-geral, muito pelo contrário. Ela mesma tem atuação regional importante. E expõe suas próprias contradições. Por exemplo, jamais requisitou que seus 22 países-membros (parte importante deles ditaduras e monarquias absolutistas) se empenhassem em realizar mudanças ou abertura política.
Como este assunto tem sido ignorado, acho que vale dizer que há apenas um ano a própria Liga Árabe se reuniu na Líbia. E não apenas isso, mas também entregou a Khadafi o cargo rotativo de presidente da entidade.
De certa forma, quando a organização decide não apoiar a ofensiva internacional (e, é melhor que se diga, muito mais uma aliança ocidental nos moldes da que levou a cabo as guerras de Iraque e Afeganistão), ela pretende de alguma maneira se posicionar neste novo cenário – simultâneo às manifestações em muitos países árabes, vale dizer. E a posição da Liga Árabe é conservadora, como não poderia deixar de ser. A entidade se coloca como observadora das mudanças e, demonstrando cautela, prefere ficar no meio do caminho, aguardando a conclusão desses eventos.
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