quinta-feira, 24 de março de 2011

Nova escalada de violência entre israelenses e palestinos

O conflito entre israelenses e palestinos estava em baixa. A certa calmaria em que a região se encontrava até esta semana era notavelmente contrastante com a erupção de protestos no mundo árabe. Pela primeira vez em anos, o conflito árabe-israelense não era o principal fator de instabilidade regional. E, claro, isso é muito ruim para as autocracias que até outro dia davam as cartas no Oriente Médio. Como passo adiante qualquer tipo de teoria conspiratória, devo dizer de cara que não acredito que a nova escalada de violência seja a resposta orquestrada dos países árabes à tensão interna que estão enfrentando.

 

Mas isso pouco importa, é bom dizer. O fato é que principalmente o atentado terrorista desta quarta-feira, em Jerusalém (foto), retoma a velha rotina de lideranças regionais de colocar o conflito entre israelenses e palestinos no centro de todos os muitos problemas da região. Um aspecto muitíssimo curioso em torno da explosão que vitimou uma turista britânica é que nenhum grupo extremista assumiu a autoria do ataque – algo bastante raro.

Mesmo autoridades de Israel cogitam a possibilidade de o Hamas não estar diretamente envolvido na ação. De qualquer maneira, essa indefinição quanto aos agentes deste novo ato em Jerusalém não muda o fato de que Israel e o próprio Hamas voltaram a se enfrentar com mais intensidade nas últimas semanas. Como de costume, os ataques cometidos pelas partes acabam por gerar retaliações que por sua vez incentivam nova escalada de violência. Este é o momento atual.

A diferença deste estágio para o de outros ciclos semelhantes é que a situação dos principais atores mudou. Enquanto se assiste a novas batalhas envolvendo mísseis palestinos e retaliações da força aérea israelense, certo inconsciente coletivo recorda a Operação Chumbo Fundido, de dezembro de 2008, quando Israel invadiu Gaza após anos de disparos palestinos contra o sul de seu território.

Não acredito numa reedição deste tipo de ação por parte de Israel por algumas razões: o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não vai querer atrair o foco para si enquanto a região atravessa período de mudanças tão significativas. As autoridades israelenses estão satisfeitas com este momento de relativa calma e crescimento econômico. Além disso, o país está mais isolado politicamente e mesmo a histórica relação com os EUA andou estremecida. Após episódios importantes, como o do navio turco que tentou furar o bloqueio a Gaza, o apoio internacional a Israel caiu ainda mais.

Nada disso, no entanto, significa a impossibilidade de novo confronto. A questão é que Israel e o Hamas não parecem dispostos a levá-lo adiante agora. O grupo palestino também aguarda mais dados quanto ao novo cenário regional. Por exemplo, a definição de quem passa a deter o poder no Egito é importante para a própria sobrevivência do Hamas – afinal, há grande possibilidade de mudanças definitivas. Enquanto o ex-presidente Hosni Mubarak jogava com os americanos e impunha controle rígido na fronteira entre Egito e Gaza, novos mandatários no Cairo podem mudar tais diretrizes.

E por mais que o Hamas não tenha abandonado a ideologia de confronto com Israel, seus dirigentes ainda sentem os duríssimos golpes que Israel impôs à infraestrutura militar em Gaza. O grupo quer revanche, mas não agora. Inclusive há sinais de que se prepara para novo confronto. Notícia completamente ignorada por aqui dá conta da apreensão pela marinha israelense, na última semana, de um cargueiro da Libéria com 50 toneladas de armamento. A embarcação viajava da Turquia à Alexandria, no Egito. As armas apreendidas apresentavam manuais de instrução escritos em persa...

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