sexta-feira, 18 de março de 2011

Obama no Brasil

A visita de Barack Obama ao Brasil é completamente diferente das visitas de outros presidentes americanos ao país. Certamente pela primeira vez é Washington quem precisa mais de Brasília, não o oposto. E isso não é pouco. Se há alguma confusão quanto aos objetivos de Obama por aqui, vale deixar claro: para os empresários dos EUA, o Brasil é hoje a terra da oportunidade. E não somente devido aos recursos naturais, mas por conta da ascensão econômica da população brasileira.

foto: Rinaldo Américo, o sósia brasileiro de Obama

Segundo dados da Casa Branca, as exportações para as Américas Central e do Sul cresceram 86% entre 2004 e 2009. A perspectiva é que elas dobrem nos próximos cinco anos. Bens e serviços americanos no Brasil atingiram a cifra de 50 bilhões de dólares em 2010 e há 57 bilhões de dólares em investimentos diretos dos EUA por aqui. O que a Casa Branca não divulga é também uma das razões da viagem: justamente na década de maior crescimento brasileiro, os EUA perderam terreno como foco de importações. Se em 2002 produtos americanos respondiam por 22% do total de importações brasileiras, dados mais recentes registram queda do índice para 15%.

Obama veio amaciar os corações brasileiros por dois motivos: primeiro, reconhece que o Brasil atravessa momento único em todas as áreas – inclusive na participação no jogo político internacional; segundo, porque brigar pela atuação de empresas americanas é brigar por empregos para os americanos. E nunca é demais lembrar: o tempo sempre passa rápido e a eleição presidencial americana acontece já no ano que vem.

E vejam só que curioso: enquanto os EUA ainda tentam colocar a cabeça para fora d’água, o Brasil atravessa um momento de alto crescimento econômico e, tão importante quanto, ostenta a menor taxa de desemprego em uma década. Este é o ambiente que envolve o encontro de Obama e Dilma. Há também outras questões importantes: Brasil e EUA são os dois maiores produtores de etanol no mundo. Enquanto o produto brasileiro é mais barato, o americano – derivado do milho – custa mais caro. Por isso, os americanos impedem a entrada do etanol nacional no mercado. Este é um ponto sensível nas relações recentes entre os países e certamente será abordado de alguma maneira.

Além disso, a Casa Branca encontrou uma forma inteligente de atingir duas questões de uma só vez: Obama vai ressaltar as boas experiências de Brasil e Chile durante o processo de transição de regimes autoritários para governos democráticos. Como sempre os discursos do presidente americano reverberam, esta mensagem é direcionada também aos países do Oriente Médio em crise política. Por conta disso também a viagem à América Latina não foi cancelada. Se por um lado parece um mau momento para o presidente deixar Washington, isso pode dar a entender uma postura menos incisiva – algo demandado pelos críticos aos EUA que interpretaram a vitória de Obama como possibilidade de mudança após oito anos de governo Bush.

O presidente americano também estará em Chile e El Salvador. Como demonstração desta mudança em curso nas relações internacionais, as visitas a Chile e Brasil tratam de assuntos estratégicos bastante típicos dos países desenvolvidos: relaxamento das exigências para concessões de vistos de entrada nos EUA, incremento do comércio bilateral e discussão de objetivos geopolíticos. Já em El Salvador, Washington vai se deparar com a velha América Latina. Os temas a serem debatidos com o presidente Mauricio Funes devem ser imigração ilegal, pobreza e violência.

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