Enquanto as passeatas na Espanha mobilizam milhares de pessoas, a insolvência do Estado grego não inspira melhores dias. O primeiro-ministro George Papandreou passa por votação no Parlamento, onde os demais países europeus esperam que seja aprovado o pacote que possivelmente não salvará a vida financeira da Grécia, mas deve frear interminávelo ciclo de débitos. As medidas de austeridade são as mesmas adotadas pelos espanhóis e por muitos líderes do continente. A ideia de sempre é cortar gastos. Na prática, isso significa que as pessoas comuns – que nada tiveram a ver com os gastos excessivos promovidos pelos políticos e com a maquiagem fiscal que enrolou investidores – vão pagar não apenas com seus bolsos, mas também com as próprias vidas.
E, claro, isso não tem nada de justo. Por isso, mesmo aprovados, os planos restritivos serão enfrentados por manifestantes enfurecidos, pobres, desempregados e desprovidos de qualquer expectativa de melhora. As decisões são tomadas de cima para baixo. Neste caso e em tantos outros do gênero, os cidadãos serão os responsáveis por salvar a pele de grandes instituições. Os membros da União Europeia depositam sobre o governo grego a culpa e a esperança pela continuidade, inclusive, da moeda comum, o Euro.
Existe também a possibilidade de a Grécia se tornar o primeiro país a abandonar a zona do euro. Esta é uma possibilidade remota, mas que mostra como a situação é desesperadora. A briga no interior do bloco é grande. Há um racha entre os Estados considerados centrais – Alemanha, França e Reino Unido – e os “periféricos” – Grécia, Espanha, Portugal, Itália e Irlanda. Ninguém sabe onde isso vai dar, mas há quase um consenso de que os cidadãos desses países mais saudáveis economicamente carregam os periféricos nas costas. Há um equívoco neste pensamento, uma vez que está repleto de um preconceito já muito familiar aos europeus e que também acaba reafirmando a própria versão institucional de divisão de responsabilidades.
Mesmo publicações importantes, como a Economist, acabaram entrando no jogo e têm usado expressões perigosamente preconceituosas como “possibilidade de contágio a partir da periferia”. Estranho isso, não? Como alternativa à falência grega, uma boa medida sugerida seria unificar ainda mais a política econômica da UE, de forma a evitar possíveis erros que provocam grandes crises como essa. Esta me parece ser não apenas uma solução dentre algumas outras, mas, na verdade, a única possibilidade de evitar mais caos. A questão é que ela esbarra num tabu muito caro aos países do bloco: o individualismo estatal. Afinal, não me parece provável que todos os países estariam dispostos a entregar seus destinos econômicos ao Banco Central Europeu, por exemplo. Curiosamente, este momento de crise ofereceria a possibilidade de os países refletirem sobre o próprio futuro do bloco. Quais os limites da unificação? Porque se a ideia inicial era criar um Estado supranacional em algum momento, agora existe uma oportunidade real de dar passos concretos rumo a este projeto.
Quem não tem muita alternativa é a Grécia. Seja lá quais forem os caminhos escolhidos, os gregos já estão certos de que o país estará falido daqui a pouco, em 2015. Seus débitos serão de propriedade da própria EU, do Banco Central Europeu e do FMI. Este é um futuro nada glorioso.
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