As manifestações sociais europeias estão conquistando cada vez mais adeptos. O movimento espontâneo, democrático e sem liderança aparente é francamente inspirado na Primavera Árabe. E este já é um fato bastante curioso por si só. Aliás, aponta para este novo mundo que aos poucos substitui a dinâmica do século passado. A implosão da ordem que determinava a replicação das diretrizes mundiais a partir do norte do planeta já é uma realidade. Ela pode deixar de existir no futuro, mas não agora.
Os protestos no mundo árabe já constituem marcas de mudança e retroalimentação. Cidadãos comuns desvinculados de filiações partidárias – em sua maioria – foram às ruas inspirados pelo conceito ocidental de democracia, dentre outros valores e reivindicações. Lutaram para depor regimes autocráticos que os impediam de exercer livre expressão, mas também representavam um Estado falido desprovido de competência para oferecer emprego, saúde, moradia e educação. Todos esses itens foram realidade consolidada principalmente na Europa do século 20, continente que se tornou sinônimo de qualidade de vida até bem pouco tempo, quando governos de centro-direita e de direita reduziram salários, adotaram pacotes de austeridade e buscaram a redução das funções do Estado.
Neste domingo, 200 mil espanhóis foram às ruas das principais cidades do país em busca deste passado tão recente e tão perdido. É uma continuidade do movimento que começou em 15 de maio, em Madri, e que, por sua vez, tem origem no sucesso das marchas populares realizadas em Egito e Tunísia, em março. Neste mundo cheio de velocidade e mudança, fica claro que há um tanto de cultura cibernética em tudo, inclusive na ideologia não-ideológica. E quando me refiro à internet não quero simplesmente fazer menção à articulação por Twitter e Facebook, mas à própria natureza dos protestos. Não há traços marcantes de autoria, bem como não há uma linha reta de acontecimentos. Os movimentos estão naturalmente articulados e se inspiram mutuamente.
No final das contas, a origem de grandes manifestações como essas é bem conhecida da história humana. O desespero, a pressão que se torna insuportável. Aos cidadãos de Egito, Tunísia, Iêmen, Síria, Marrocos a corrupção de seus políticos, o desemprego, a falta de perspectiva. A espanhóis e gregos, o desemprego de 40% dos jovens e a sensação de traição. Se nos países árabes o governo e as instituições sempre representaram uma grande farsa, os europeus não parecem dispostos a quebrar seus paradigmas em nome de metas econômicas que, dentre outros objetivos, devem manter economias “saudáveis”. É complicado empurrar aumento de impostos e redução de salários em nome de algo tão vago e disforme.
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