Comentei ontem sobre o impasse na Síria e, dentre outros assuntos, mencionei a participação da Turquia. A London School of Economics (LSE) publicou artigo em que aborda o papel cada vez mais importante de Ancara nas relações regionais com o mundo árabe. Um dos mais importantes centros de pensamento ocidental confirma academicamente a trágica realidade. Os conflitos atuais e a perseguição aos opositores ordenada pelo regime de Bashar al-Assad já causaram a fuga de 1,6 mil sírios para a Turquia – os dois países compartilham 850 quilômetros de fronteira.
Foto: campo de refugiados sírios na Turquia
Abordei também a tentativa de Rússia e China de barrar qualquer resolução mais contundente no Conselho de Segurança da ONU. Apresentada por Grã-Bretanha, França, Alemanha e Portugal, o texto é mera maquiagem, uma vez que não faz grande pressão sobre Assad. De qualquer maneira, China e Rússia são contrárias ao rascunho pelos motivos que apresentei ontem, mas também por outras razões ainda mais egoístas: seus respectivos governos consideram que a sistemática perseguição promovida por Damasco contra a própria população é uma questão interna síria. Os dois países, na verdade, legislam em causa própria.
Russos e chineses cometem seus abusos particulares contra jornalistas e opositores políticos. Para seus governos, qualquer cenário onde a comunidade internacional intervenha em nome de direitos humanitários ou argumentos do gênero é precedente para passos que, futuramente, poderiam causar prejuízos a seus regimes. Esta é uma visão pragmática, perversa e injusta das relações internacionais. E também é uma interpretação míope da própria função da ONU e de seus muitos organismos.
Os membros da comunidade internacional não devem repetir, pelo menos por ora, as ações que estão em curso na Líbia. Principalmente porque não há unanimidade quanto a isso e também devido ao poder regional sírio e de seus aliados. Concordo com esta visão. A Síria não é a Líbia, quer dizer, Damasco tem seus próprios pilares de sustentação geopolítica – Irã, Turquia, China, Rússia e os atores não estatais Hamas e Hezbollah. Isso é verdade. Mas não acredito que este é o tipo de aliança capaz de segurar uma eventual tentativa de Assad de provocar uma carnificina interna.
Limitado os poderes e abusos do presidente sírio está a tecnologia. Se perder a mão e a violência for ainda mais desmedida, não haverá apenas rumores sobre uso da força, mas também imagens. E elas são poderosas e praticamente impossíveis de serem contidas em grande volume. A opinião pública ocidental não permanecerá calada diante de seguidos vídeos produzidos por câmeras de telefones celulares e exigirá algum tipo de resposta mais firme dos governos. Mesmo Rússia e China não defenderão Assad por tempo indeterminado. E aí a situação pode mudar completamente. Além disso, a Turquia irá pressionar ainda mais o presidente sírio se o fluxo de refugiados continuar.
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