Após a morte de Osama Bin Laden, há 45 dias, algumas questões passaram a assombrar o imaginário internacional. A primeira delas seria sobre um eventual sucessor. Na esteira dela, o futuro da organização terrorista, cujo maior golpe – sofrido pelas mãos de seus inimigos mais óbvios – acontecia justamente no momento de outro golpe, possivelmente mais poderoso do que o assassinato de seu líder e fundador: a própria existência de manifestações populares e majoritariamente pacíficas nos países árabes que reivindicavam democracia e outros tantos valores nada compatíveis com a ideologia da al-Qaeda.
O egípico Ayman al-Zawahri é o novo Bin Laden, com o perdão da simplificação. Alguns aspectos de sua biografia poderiam ludibriar os mais incautos. Por exemplo, nascido e criado em família rica, formou-se em medicina. Se o caminho parecia apontar para a forma mais evidente de valorização da vida humana, vale dizer que antes mesmo da faculdade, aos 14 anos de idade, ele já havia se filiado à Jihad Islâmica. Na al-Qaeda, é reconhecido por ser um estrategista e também pela introdução de métodos inovadores: os atentados suicidas e células terroristas independentes.
É preciso dizer que, apesar de alguma mobilização em torno do anúncio desta quinta-feira, a organização está enfraquecida. A morte de Bin Laden foi um golpe emblemático não apenas pelo carisma do terrorista, mas por sua capacidade de unir os diferentes segmentos da al-Qaeda. Além disso, a estrutura de lealdade de seus membros não pode ser analisada com um olhar ocidental, como observa Jason Burke, no Guardian:
“Você não pode jurar fidelidade à organização. O juramento, ou ‘bayat’, é a apenas um indivíduo. Isso quer dizer que a lealdade pessoal dos seguidores de Bin Laden não se transfere automaticamente a Zawahri. Para aspirantes ao jihadismo (…) ser um seguidor de Zawahri é uma proposta muito menos atraente do que ser um seguidor de Bin Laden”, escreve.
E esta nem é a maior dificuldade. A al-Qaeda precisa se reinventar para continuar a existir. Os objetivos alcançados pacificamente pelos movimentos conhecidos como Primavera Árabe são muitos mais palpáveis – e atingidos em muito menos tempo. Por isso, em seu primeiro comunicado oficial, Zawahri citou a jihad contra Israel como uma meta de seu grupo. Esta não era uma preocupação primordial dos membros da al-Qaeda, mas precisou ser incluída porque a questão envolvendo uma solução permanente e aceitável aos palestinos é um assunto que comove a opinião pública dos países árabes e islâmicos. O problema é que, mesmo neste quesito, o grupo terrorista dá uma bola fora e inatingível: seu objetivo não é a criação de um Estado palestino, mas a destruição de Israel.
Este tipo de argumento talvez encontre eco em algumas camadas das distintas sociedades islâmicas. Mas por mais que os jovens egípcios, tunisianos e iemenitas não tenham lá qualquer apreço pelo Estado judeu, eles têm demonstrado um profundo senso de pragmatismo. E, no caso do conflito palestino-israelense, quem é pragmático sabe que o Estado de Israel não vai deixar de existir.
Se a al-Qaeda foi pioneira ao aplicar o sistema de franquias aos terrorismo, ela agora parte para a introdução prática de mais um conceito de marketing. Está em busca de um nicho de mercado, onde estão concentrados os mais radicais. O problema para o grupo é que este discurso encontra cada vez menos adeptos.
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