Apesar da greve, dos confrontos de rua e das muitas tentativas de impedir a aprovação do pacote de austeridade na Grécia, as medidas restritivas foram acatadas pelo parlamento nesta quarta-feira. É bom que se diga, no entanto, que o resultado da votação mostra que não há unanimidade nem mesmo entre os parlamentares. Foram 155 votos a favor, 138 contra e sete abstenções. Não se sabe se isso reflete algum tipo de crítica à solução apresentada pelos “solidários” parceiros da União Europeia ou dá conta de um temor individual de carregar esta mancha na biografia política. Pode ser os dois, inclusive.
A questão agora sobe de nível. Quer dizer, não basta aprovar o pacote, mas conseguir implementá-lo. E aí a situação fica bem complicada porque, na prática, o poder está com a população. Para ser bem prático, a Grécia não dá os passos considerados necessários pelos bancos credores alemães e franceses se o país simplesmente parar. Se o impasse permanecer, não há produtividade, economia e, finalmente, recolhimento de impostos. O futuro está em boa parte com a população economicamente ativa – a mesma que está nas ruas e cuja camada jovem está amplamente desfavorecida pela realidade atual. São mais de 35% de jovens gregos sem emprego e, pior, desprovidos de qualquer perspectiva de melhora.
É impossível desvincular esta crise econômica de uma gigantesca crise política. E, para deixar muito claro, a economia pode parar. A Grécia é um estado democrático e muito possivelmente não irá procurar resolver o assunto apenas com o poder coercitivo. Se a massa de trabalhadores simplesmente se recusar a voltar a produzir, a polícia e as forças armadas não deverão recorrer a um banho de sangue como forma de pôr o trem de volta nos trilhos.
O que pode acontecer a partir disso é uma tremenda e terrível incógnita. O colapso econômico que já existe pode ser acrescido também da falência política. E este cenário nem é tão improvável assim. Para mudar de vez a realidade que está posta basta somente que uma – apenas uma – das instituições a serviço da ordem e do governo decida refletir sobre o papel que deve exercer. E se a instituição for o exército, por exemplo? Vale lembrar sempre que graças à adesão das forças armadas aos manifestantes no Cairo o presidente Hosni Mubarak foi deposto.
Além de a Grécia já ter sido governada pelos militares, os soldados são gente comum. A hora em que um movimento interno questionar a fidelidade aos bancos em detrimento dos interesses dos cidadãos, a dinâmica será completamente diferente.
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