É verdade que o discurso de posse de Obama lembrou uma dualidade recente da política brasileira: a esperança diante do medo. Além disso, Obama representa – como Lula de certa maneira também representou – a ascensão dos excluídos, muito embora a biografia do novo presidente norte-americano não apresente as dificuldades materiais pelas quais passou seu colega brasileiro. Esses são, no entanto, os únicos paralelos possíveis de serem traçados entre os dois até o momento.
Lá como cá, a população escolheu a esperança e nesta terça foi às ruas de Washington para celebrar a nova era numa série de festejos e discursos emocionados.
No queda do Muro de Berlim e na assinatura dos Acordos de Oslo, por exemplo, o mundo assistiu a história ao vivo. E todos sabiam que aqueles momentos seriam eternizados como parte da trajetória da humanidade. A posse desta terça-feira foi um desses momentos.
A histeria esperançosa que tomou conta da capital americana aconteceu por conta das enormes expectativas que se colocam sobre o novo homem mais poderoso do mundo. A população que o elegeu está ansiosa para que ele coloque em prática as palavras que usa com maestria.
Mesmo com toda a segurança que apresenta diante das plateias, Obama atropelou um pequeno trecho do juramento, como se já quisesse começar a lutar contra os enormes desafios com os quais vai se deparar ao longo destes quatro breves anos. Eles vão passar rápido demais, podem ter certeza.
E uma de suas batalhas mais urgentes promete ser mais difícil do que Obama pensava: a aprovação do pacote de 800 bilhões de dólares para estimular a economia americana. O presidente esperava que, mesmo antes de assumir, o assunto já estivesse resolvido e aprovado pelo Congresso. A ele bastaria somente assinar seu primeiro, contundente e aguardado decreto.
Mas isso não deve acontecer. Segundo a revista alemã Der Spiegel, uma série de discussões acerca de cada detalhe do plano já está em curso no Congresso. O pacote causa controvérsia por ser grande demais, segundo os conservadores, e menos amplo do que se esperava, para os liberais.
Discurso de posse
O texto que Obama leu ao tomar posse como 44º presidente dos Estados Unidos tem uma série de indicadores acerca de como deve ser seu mandato. Não há grandes novidades, até porque reafirmou alguns de seus compromissos de campanha. Em alguns momentos, ele analisa os grandes desafios que tem pela frente.
“Que nós estamos em meio a uma crise é agora bem sabido. Nossa nação está em guerra, contra uma rede de longo alcance de violência e ódio. Nossa economia está bastante enfraquecida, em consequência da ganância e irresponsabilidade por parte de alguns, mas também por nosso fracasso coletivo em fazer escolhas difíceis e preparar a nação para uma nova era. Casas foram perdidas; empregos cortados; negócios fechados. Nosso sistema de saúde está muito dispendioso; nossas escolas fracassam com muitos; e cada dia traz novas evidências de que as formas como usamos a energia fortalecem nossos adversários e ameaçam nosso planeta”, disse.
Em outro trecho, aborda a segurança interna – que ocupou parte importante do mandato de Bush – questão que não deve ser esquecida de sua agenda. Ele aproveita para mandar um recado a grupos e países aliados com o terrorismo.
“Para aqueles líderes pelo mundo que buscam semear o conflito, ou culpam o Ocidente pelos males de suas sociedades: Saibam que seus povos irão julgá-los a partir do que vocês podem construir, e não destruir. Para aqueles que se agarram ao poder por meio da fraude e da corrupção, saibam que estão no lado errado da História; mas nós estenderemos a mão se vocês estiverem dispostos a cooperar”.
Mais à frente, mandou uma mensagem de cooperação aos países pobres e responsabilidade, aos ricos.
“Às pessoas das nações pobres, nós queremos trabalhar a seu lado para fazer suas fazendas florescerem e deixar os cursos de água limpa fluírem; para nutrir corpos famintos e alimentar mentes ávidas. E para aquelas nações como a nossa, que vivem em relativa riqueza, queremos dizer que não podemos mais suportar a indiferença quanto ao sofrimento daqueles que sofrem fora de nossas fronteiras; nem podemos consumir os recursos do mundo sem nos importar com as consequências. Nós devemos acompanhar as mudanças do mundo”.
E assim o vento gelado da mudança se espalhou para o mundo, no maior fenômeno político-midiático deste início de século. Clique aqui e leia o discurso de Obama na íntegra.
2 comentários:
Nao seriam 800 bilhoes de dolares?
Isso mesmo, caro Anônimo. Já alterei no texto. Obrigado!
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