quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O diálogo como única alternativa para Irã e EUA

A entrevista de Barack Obama à rede árabe de televisão Al-Arabyia causou grande euforia. Não apenas na imprensa, que continua a cobrir o assunto com muito ânimo, mas também nas articulações políticas que se seguiram à exibição. Após o líder americano estender a mão ao Irã – mas desde que o país “afrouxe o pulso” –, foi a vez de Ahmadinejad aproveitar a oportunidade para retribuir a gentileza.

O presidente do Irã se mostrou desconfiado em relação à oferta diplomática dos EUA. Disse que, antes de tudo, os americanos precisam pedir desculpas ao povo iraniano. Segundo ele, terá de haver um grande esforço para reparar os crimes cometidos no passado. Também especulou qual o real sentido do termo “mudança” para Barack Obama.

“O primeiro (significado) pode se referir a uma mudança genuína, efetiva. O segundo talvez seja para demonstrar uma mudança de tática. Mas está claro que o verdadeiro sentido da mudança é este segundo, e isso vai ficar evidente em breve”, disse.

Ou seja, a recepção da oferta de uma nova abordagem no relacionamento entre Irã e EUA foi decepcionante. E justamente para a figura mais relevante e capaz de frear ou avançar com qualquer processo de entendimento.

Segundo analistas da BBC, o descaso com a entrevista de Obama pode ser um sinal de que Ahmadinejad quer manter seu discurso de rompimento com o ocidente de forma a agradar a seus eleitores. Afinal, as próximas eleições presidenciais no país acontecem em junho deste ano. Continuar a emitir declarações num tom elevado é ser coerente com a posição que satisfaz parte da opinião pública.

Mas Irã e EUA sabem que é apenas uma questão de tempo antes de se sentarem à mesa de negociações. Tudo porque ambos compartilham de um problema comum e que vem se agravando com o tempo: o Afeganistão.

Prioridade da gestão Obama, o novo governo americano sabe que vencer ou convencer os talibãs é fundamental na guerra contra o terrorismo. Tanto que já foi autorizada a transferência de mais tropas para combater no país.

Por mais estranho que pareça, interessa aos iranianos restabelecer a calma no Afeganistão e de preferência sem a presença da atual e corrupta administração do presidente Hamid Karzai. Há duas razões principais para o governo de Teerã estar bastante satisfeito com o fato de Obama dar prioridade à guerra no Afeganistão.

Segundo o escritor Kaveh L. Afrasiabi, autor do livro After Khomeini: New Directions in Iran’s Foreign Policy (Depois de Khomeini: Novas Diretrizes para a Política Externa do Irã), as autoridades iranianas estão preocupadas com o aumento do comércio de ópio no Afeganistão. O tráfico de drogas cresceu bastante desde a queda do regime Talibã, que mantinha um controle rígido sobre esta questão.

Além disso, explica ele, outra fonte de preocupação com a bagunça no país vizinho fica por conta dos equívocos na área de segurança operados pelo Paquistão, onde extremistas sunitas têm ganhado poder rapidamente.

Islamabad deslocou forças militares que cuidavam das regiões vizinhas ao Afeganistão para a fronteira com a Índia após os atentados terroristas de Mumbai. Existe o temor, por parte do Irã, de que uma vitória dos milicianos do talibã neste contexto possa ser o início de uma escalada ameaçadora em uma fronteira de grande extensão territorial.

“É inquestionável que os ventos da mudança atravessam hoje não apenas o Afeganistão, mas todos os países da região. Por partilharem uma real preocupação quanto ao futuro do governo de Hamid Karzai, do Talibã e do Afeganistão, Teerã e Washington não possuem alternativa a não ser buscar uma solução diplomática para esses problemas”, escreve Afrasiabi em artigo publicado no Ásia Times.

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