Mais uma vez, as esperanças de paz no Oriente Médio foram para o buraco. O curioso, entretanto, é notar que Hamas e Israel parecem ter concordado pela primeira vez desde o início da ofensiva em Gaza: a resolução proposta pela ONU não atende a nenhum dos lados. Por mais que o mundo inteiro torça para que a violência termine, israelenses e palestinos enxergam o atual conflito de maneiras opostas; e, por isso, também divergem sobre a forma como ele deve ser encerrado.
Em entrevista ao canal de televisão do Hezbolah, a Al Manar, o líder político exilado do Hamas, Moussa Abu Marzouk, explicou porque se opõe à proposta das Nações Unidas.
“Esta resolução foi discutida nos corredores da ONU, em Nova Iorque. Nosso movimento não foi consultado. A visão e os interesses de nosso povo não foram levados em consideração”, disse.
Para o Hamas, qualquer decisão internacional só será válida quando Israel acabar com as incursões a Gaza e encerrar o bloqueio ao território.
Além deste fator, há uma profunda divisão interna do grupo. Outros argumentos apresentados para rejeitar a proposta seguem a linha defendida por Muhammad Nasr, conselheiro político do líder exilado na Síria Khaled Meshaal. Segundo a revista alemã Der Spiegel, para Nasr, o Hamas não deve abrir mão de controlar a fronteira entre Gaza e Egito e, menos ainda, reconhecer Israel – mesmo que indiretamente.
De acordo com o veículo alemão, outro negociador do grupo enviado ao Cairo pensa diferente. Imad al-Alami possui uma visão mais conciliatória. Para ele, a proposta costurada por França e Egito não precisa necessariamente ser descartada à priori. Ele promete retornar à mesa de negociações com contrapropostas.
Ao Egito – cuja participação nos esforços de paz vem merecendo elogios da comunidade internacional –, a resolução tampouco agradou. Para o Cairo, existe a justificável sensibilidade envolvendo a perda de parte de sua soberania. O país considera aceitável somente ajuda técnica internacional para combater o contrabando de armas para Gaza.
Ao mesmo tempo, mesmo se o Egito aceitasse a presença de tropas estrangeiras em seu território, haveria uma dificuldade logística fundamental. Segundo diplomatas europeus, dentre os membros da OTAN (a aliança militar entre Europa e Estados Unidos), somente a Turquia se mostrou disponível a enviar soldados para o patrulhamento da fronteira entre Gaza e Egito.
No último vértice deste complexo triângulo, Israel apresentou outras razões para não acatar a resolução da ONU. Para o governo israelense, a ofensiva só pode terminar quando o Hamas interromper o lançamento de mísseis sobre o sul do país e após o estabelecimento de mecanismos capazes de garantir o fim do contrabando de armas do Deserto do Sinai para Gaza.
“Israel atuou, atua e vai atuar somente de acordo com suas considerações, a necessidade de segurança de seus cidadãos e o direito de auto-defesa”, informou um comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores.
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