quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O começo do fim; e mísseis libaneses sobre o norte de Israel

Ao mesmo tempo em que envia dois altos funcionários para negociar um cessar-fogo no Egito, o governo de Israel sustenta que a ofensiva em Gaza ainda não terminou. Nesta quinta-feira, esta foi a mensagem transmitida pelo primeiro-ministro, Ehud Olmert, e pelo ministro de Defesa, Ehud Barak.

“A decisão sobre como deixaremos claro que a tranqüilidade no sul está garantida ainda se encontra em aberto. Não terminamos de dar as ordens a nosso exército para concluir todo o trabalho necessário de forma a atingir este objetivo”, disse Olmert.

Como escrevi outras vezes, ao contrário do ocorrido na Segunda Guerra do Líbano, em 2006, existe uma real estratégia israelense para vencer este conflito. Mais ainda, Israel definiu metas mais modestas aos olhos do mundo e de seus próprios cidadãos.

Não custa repetir que, para os israelenses, a missão terá sido considerada vitoriosa se: 1 - o lançamento de mísseis sobre suas cidades terminar; 2 - a comunidade internacional for convencida da necessidade do estabelecimento de um cessar-fogo permanente e de uma força militar de diversos países que vigie o Hamas e impeça o contrabando de armas do Egito para Gaza através de túneis.

Ao contrário do conflito de dois anos e meio atrás – quando o governo de Israel aplicou táticas que tinham como objetivo final acabar com o Hezbolah, hoje o Estado Judeu sabe que o Hamas não vai encerrar suas atividades, mesmo com muitos de seus membros mortos. A ambição do país é criar uma maneira de o mundo se sentir responsável, de alguma forma, pela competência com que o grupo será vigiado a partir da próxima trégua entre as partes.

É arriscado e pouco preciso o termo “convivência”, mas creio que ele pode ser usado para definir como Israel pretende se relacionar com o Hamas daqui pra frente – por mais estranho que isso possa parecer. A diferença agora é que os olhos da comunidade internacional irão se voltar, pelo menos por um bom tempo, para as atividades do grupo extremista.

E, por si só, esta terá sido uma grande vitória para o governo israelense que se despede. Afinal, ao menos temporariamente, Olmert, Livni e Barak terão conseguido levar tranqüilidade para os cidadãos do sul do país. Talvez por um período de tempo suficiente para impulsionar a campanha de Livni ou Barak nas eleições de 10 de fevereiro.


Resolução do Conselho de Segurança


A resolução proposta pela ONU mostra alguns aspectos diferentes e que agradaram aos Estados Unidos. Menciona um cessar-fogo permanente e, conforme citado pelo ministro britânico para assuntos exteriores, David Miliband, segurança para os israelenses da região sul do país, e dignidade para os palestinos de Gaza.

Provavelmente, quando a maioria ler este texto, a resolução já terá sido aprovada pelo Conselho de Segurança e poderemos descobrir quais serão as medidas práticas para aplicá-la no cenário da guerra. Mas um detalhe interessante me chamou a atenção. Depois que Miliband encerrou seu pronunciamento aos jornalistas, o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, foi ao microfone e fez um adendo à declaração de seu colega inglês. Ele disse que o objetivo também é prover segurança ao povo de Gaza.

Se as palavras de Moussa de fato forem mais do que retórica vazia, o Conselho de Segurança teria uma excelente oportunidade de mostrar comprometimento com o apaziguamento definitivo da situação. Os moradores de Gaza precisam mesmo de proteção. De preferência, por meio de uma força militar internacional capaz de impedir provocações com mísseis a Israel.

A tranqüilidade no território pode ter um grande significado no futuro da região. Quem sabe, ONU, União Européia, Estados Unidos e os países árabes possam realmente ajudar os palestinos de Gaza a criar instituições sérias e capazes de permitir um ambiente seguro e transparente onde o dinheiro enviado pela comunidade internacional não seja usado para a compra de armamento, mas para o desenvolvimento econômico e social.

Mísseis lançados do Líbano

Os quatro mísseis que caíram no norte de Israel nesta quinta-feira fizeram muita gente prender a respiração, temendo a possibilidade de uma nova frente de batalha e acabando com a possibilidade de qualquer acordo. O Hezbolah se apressou em negar a responsabilidade pelo ataque. A mesma atitude foi tomada pelo governo do Líbano.

O Hezbolah seria capaz de lançar este ataque, mas não teria qualquer temor em se declarar o autor do lançamento desses mísseis. Se não o fez, há pelo menos duas explicações. Para Yoav Stern, jornalista do Haaretz, as eleições libanesas que ocorrem em menos de seis meses poderiam momentaneamente deter as ambições do grupo.

“O Hezbolah não quer se apontado (internamente) como o responsável por mais uma vez acabar com a relativa situação de calma. O grupo não pretende arriscar seus números nas pesquisas de opinião”, escreve.

A outra possibilidade é que os mais de 34 mil mísseis que os extremistas detêm hoje – e continuam a recebê-los do Irã – não devem ser usados agora. Eles estão guardados para uma provável retaliação ao mais do que previsível ataque de Israel às instalações nucleares iranianas.

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