A menos de uma semana da posse de Barack Obama, não resta qualquer dúvida sobre o fenômeno em que ele se transformou. Ídolo pop, fonte de esperança mundial, ícone da virada do jogo de poder racial nos Estados Unidos. Há muitas formas de tentar rotular o próximo líder norte-americano. Mas o presidente eleito dos Estados Unidos é, de alguma maneira, o ator principal de um filme realizado tantas vezes por Hollywood.
Obama chegou a Washington e um dia depois saiu com assessores e a família para jantar no restaurante que tem a fama de vender o melhor cachorro-quente do país. Ele arregaçou as mangas e sentou-se lado a lado com os demais clientes. Nada de avisar com antecedência, isolar a área ou fechar o lugar. O próximo homem mais poderoso do mundo se permite agir naturalmente num país onde nem Michael Jackson faz isso. Tempos de mudança.
Obama tem carisma, conversa naturalmente, dobra as mangas da camisa enquanto discursa, seduz a platéia. Nunca houve tanta expectativa. Jornais publicam editorais entusiasmados, celebridades se oferecem para estar a seu lado e ele não se faz de rogado. Dois dias antes da posse, um concerto musical vai marcar o início da nova era.
Beyonce, U2, Bruce Springsteen, Stevie Wonder, Usher, Mary J. Blige e Sheryl Crow estão confirmados. Até o produtor-executivo do evento mostrou surpresa diante da resposta positiva e imediata dos artistas ao convite. "No primeiro dia, convidamos Springsteen, Bono e Garth Brooks. Num período de 45 minutos, recebemos três 'sim'", disse George Stevens Jr. à Associated Press.
Além da música, a emoção de fazer parte de um momento de consciência histórica deve tomar conta dos envolvidos. A atriz Queen Latifah e os atores Jamie Foxx e Denzel Washington vão ler passagens da história americana. Os ingressos para assistir à posse, no dia 20, também foram vendidos. Cinco mil entradas disponíveis ao público se esgotaram. Em um minuto. Cada bilhete custava 25 dólares. Além dos VIPs, cerca de 4 milhões de pessoas devem estar na capital americana para participar da festa.
Os países têm diferentes expectativas sobre os atos do novo presidente. Editorial publicado no canadense Globe and Mail valoriza o fato de o Canadá ter sido escolhido como destino da primeira viagem internaicional de Obama. Mas mostra preocupação quanto as relações com um presidente democrata. "O perigo não é Obama esquecer o Canadá, mas manter a tendência protecionista do Partido Democrata, particularmente quando se trata de salvar os empregos na indústria automobilística e em outros setores ameaçados pela crise", diz.
O site de política internacional Real Clear World especula qual dos atores internacionais será o responsável pelo primeiro telefonema às 3h da manhã que o presidente irá receber: Rússia, al-Qaeda, Coréia do Norte, Irã ou Paquistão. O Brasil é lembrado como um problema, mas menor.
"Felizmente para ele (Obama), alguns dos problemas potenciais vão permanecer mais distantes e menos urgentes, tais como China, Índia e Brasil. Outros, como Venezuela, Cuba e África não vão causar pressão internacional suficiente a ponto de pedir respostas imediatas", teoriza.
Eu descarto todas as opções acima e escolho a super óbvia atual guerra entre Israel e Hamas - isso se até semana que vem esse problemão não tiver sido interrompido - solucioná-lo é bem mais complexo. Como escrevi ontem, promover um cessar-fogo no Oriente Médio seria um excelente cartão de visitas dos novos ventos da mudança.
Em tempos de tamanha expectativa, a única certeza até agora é que Obama - cuja experiência em assuntos internacionais é quase nula - é um homem do showbizz. Talvez ele não seja acordado às 3h da manhã na Casa Branca pela simples possibilidade de sequer conseguir dormir tamanha a roubada em que se meteu. Pelo menos eu não dormiria.
"Na tarde do dia 20 janeiro outro novo ocupante irá se apossar do Salão Oval. Duvido que Barack Obama sentirá satisfação neste momento. Tendo a optar por apreensão. Ele deve acabar por se questionar: 'como eu me meti nisso?'", escreve a jornalista do USA Today Sandy Grady.
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