segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Primeiras impressões do pós-guerra

Com o fim da guerra entre Israel e Hamas, algumas outras batalhas – talvez até mais difíceis de serem vencidas – começam agora. No campo do discurso, o Hamas vai tentar de qualquer maneira provar que expulsou os israelenses de Gaza, agindo da mesma forma que o Hezbolah em 2006 numa estratégia de propaganda que levou o grupo a se tornar um ator considerado regionalmente.

A outra preocupação fica por conta da tensão dos próximos sete dias, quando Israel deve retirar suas tropas do território. O Hamas já avisou que irá resistir enquanto soldados israelenses marcarem presença em Gaza.

Não resta dúvidas de que, militar e politicamente, a vitória foi de Israel. Além de ter tido somente 13 baixas em comparação com os mais de 1.200 mortos palestinos, o Estado Judeu conseguiu lançar luz sobre o problema do lançamento de mísseis disparados em direção ao sul de seu território – algo que vinha se repetindo há quase oito anos sem sensibilizar a comunidade internacional.

Entretanto, a imagem do país saiu bastante arranhada desta ofensiva por conta de erros que resultaram na morte de muitos civis.

Política

Com as eleições já batendo à porta em Israel, Olmert vai fazer de tudo para convencer o público de que os ataques definitivamente mudaram o cenário no sul do país. Ehud Barak e Tzipi Livni – candidatos à substituição do atual primeiro-ministro – farão o mesmo, ressaltando principalmente o acordo assinado com os EUA para o aumento da vigilância no lado egípcio da fronteira – discurso que deve ser encampado principalmente por Livni, devido ao cargo que ocupa – e o reduzido número de baixas militares – slogan que deve ficar com o ex-brilhante militar e atual ministro da Defesa, Barak.

Nahum Barnea, colunista político do Yedioth Ahronoth, o jornal de maior circulação em Israel, levanta a bola de como deve se comportar o terceiro e mais importante vértice da política israelense: Bibi Netanyuahu. O candidato do oposicionista Likud elogiou a ofensiva em público, mas, diante do fato de também pleitear ao cargo político mais importante do país, deve mudar de estratégia a partir de agora.

“Assim que a operação estiver completamente encerrada, não importando qual seja seu resultado, seu partido deve partir para o ataque, argumentando que ‘nós poderíamos ter conseguido mais’”, escreve.

Ainda resta saber como Israel irá reagir caso o Hamas volte a lançar mísseis. Como se sabe, a infraestrutura do grupo não foi totalmente destruída. Vale lembrar que os mísseis caíram sobre as cidades do sul de Israel até o último dia de ofensiva.

“Já falhamos neste mesmo teste outras três vezes: após a retirada das tropas do sul do Líbano, em 2000; após a retirada unilateral de Gaza, em 2005; e durante o cessar-fogo com o Hamas, em 2008”, escrevem os jornalistas do Haaretz Amos Harel e Avi Issacharoff.

Hamas

Os ganhos do Hamas aos poucos vão ficando mais claros também. Mesmo com perda considerável de seus membros e também de toda a estrutura montada no território, o grupo passou a ser considerado politicamente.. Usufruiu de apoio público dos países árabes e, mais ainda, alguns países europeus passaram a reconhecer sua autoridade em Gaza, como no caso da Itália, cujo ministro das Relações Exteriores deve visitar o território em breve.

Regionalmente, a conquista foi significativa. No encontro de países árabes em Doha, no Catar, o representante palestino foi Khaled Meshal, líder exilado do Hamas na Síria, e não o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.

Segundo o Haaretz, fontes dos serviços de inteligência de Israel informam que o Irã pretende rearmar o Hamas após a perda material causada pela ofensiva. De acordo com o jornal israelense, o regime de Teerã pretende enviar a Gaza mísseis mais precisos e de longo alcance capazes de atingir Tel Aviv.

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