quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O outro lado da entrevista de Obama

Grandes decisões costumam gerar discussões proporcionais. E foi exatamente isso o que aconteceu após a entrevista concedida pelo presidente Barack Obama. O tom de aproximação com o mundo islâmico que marcou as declarações à Al-Arabyia vem causando grande polêmica entre vários setores da intelectualidade americana. E este é só o começo de uma gestão que promete não deixar ninguém indiferente a suas decisões.

O passo teórico de aproximação com potências que George W. Bush incluía no que designou de “Eixo do mal” começa a tomar corpo prático, como uma suposta carta que estaria sendo redigida por funcionários do governo americano direcionada a abrir negociações diretas com o Irã. A informação, divulgada nesta quinta-feira pelo jornal britânico The Guardian, foi oficialmente negada. Mas fica uma dica do que pode estar sendo preparado pela equipe de Obama.

De qualquer forma, nem todos nos Estados Unidos foram unânimes em exaltar a maneira como o novo presidente americano comunicou a uma das principais redes de televisão árabe alguns dos princípios que devem reger sua política externa.

Em artigo publicado no The Wall Street Journal, o professor de Estudos de Oriente Médio da Universidade John Hopkins, o libanês Fouad Ajami, preferiu criticar a possibilidade de os Estados Unidos deixarem de lado a prática adotada por Bush de intervir política e militarmente em sua “cruzada” por democracia empreendida em países árabes.

Ele lembra algumas vitórias de Condoleezza Rice e companhia, como a “reabilitação” da Líbia, a queda do regime Talibã no Afeganistão, a retirada de Saddam Hussein do poder no Iraque e o fim da presença – física, pelo menos – da Síria no Líbano, em 2005.

“A ironia é óbvia: Bush foi uma força de emancipação em terras muçulmanas. Mas Barack Hussein Obama é um mensageiro da antiga ordem estabelecida. Obama pode até reconhecer o impacto revolucionário de seu predecessor, mas até agora não escolheu dar continuidade a esta estratégia”, diz.

Outro acadêmico dos Estados Unidos aborda um ponto de vista diferente para analisar as declarações de Obama. Segundo Victor Davis Hanson, historiador da Universidade de Stanford, o presidente americano pode ter passado uma espécie de atestado de legitimidade a regimes autoritários, como o da Arábia Saudita.

Tudo porque a mea culpa quanto a equívocos e erros norte-americanos do passado poderiam dar a entender que a razão está do lado da intolerância religiosa, do autoritarismo, da inexistência de liberdade de imprensa e outras características muito comuns em países daquela região.

Acho esta visão um tanto maniqueísta, como se por conta da autocrítica feita por Obama os Estados Unidos dessem o braço a torcer aos países que ignoram os valores básicos da democracia.

“É como se a relação fosse ‘a América do passado é ruim / América do futuro é boa. Existe a suposição de que de alguma maneira a culpa (pelas relações ruins entre EUA e os países islâmicos) é muito mais nossa. De fato, o ódio manifestado, e às vezes aplaudido pelo mundo muçulmano no 11 de Setembro, é resultado da incompetência de autocracias nativas, como o Panarabismo, Baathismo, Nasserismo e o Estatismo pró-soviético”, diz.

Água Negra

Na sombra dos acontecimentos, fica a informação de que a empresa de segurança privada Blackwater não irá receber a licença do governo iraquiano para continuar a operar no país, segundo o The New York Times. Assim, os diplomatas americanos terão de procurar novas opções para cuidar de sua segurança pessoal.

Para saber mais sobre a Blackwater, clique aqui.

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