segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O difícil relacionamento entre EUA e Paquistão: desafio para Obama

Com a política externa do governo Obama passando a ser colocada em prática, aos poucos os desafios a serem enfrentados nos próximos quatro anos ficam mais óbvios. Se for realmente verdadeira a notícia do jornal inglês Times de que as reservas de urânio iranianas estão próximas de se esgotarem – por enquanto tudo não passa de especulação – , haverá mais tempo para pensar numa estratégia de conter os avanços do Talibã no Paquistão.
E é por lá que o novo presidente americano se viu diante de protestos dignos da administração Bush. Os motivos da revolta da população paquistanesesa foram dois ataques supostamente empreendidos pelos Estados Unidos ao país e que deixaram 22 mortos. A operação realizada na última sexta-feira tinha como objetivo desarticular posições da Al-Qaeda.
A luta contra a rede terrorista criada por Osama Bin Laden será uma constante na política externa de Obama. Mas a relação dos Estados Unidos com o Paquistão é complexa e, justamente por isso, o novo presidente americano terá de desatar os nós criados por administrações anteriores. A impossibilidade de Islamabad controlar a totalidade do território paquistanês já é conhecida.
Parte considerável das ISI, o serviço de inteligência paquistanesa, compartilha da ideologia extremista de grupos como o Lashkar-e-Toyyba (LeT), acusado de participação efeitiva nos atentados à cidade indiana de Mumbai, no final do ano passado.
O grande problema é que o país ainda é visto como um importante aliado americano na região. De fato, mesmo os mais radicais membros das forças armadas e das próprias ISI apreciam bastante a generosa ajuda financeira dos Estados Unidos. São 2 bilhões de dólares por ano, cifra que credencia o Paquistão como o terceiro maior beneficiário do governo americano, atrás apenas de Israel e Egito.
Curiosamente, no final das contas são dólares enviados oficialmente dos EUA que têm patrocinado a ambição militar abrigada na radicalidade das ISI e também nas forças armadas conduzidas pelo governo de Islamabad.
"Uma maneira de interromper esta abordagem política seria Obama adotar uma ideia atualmente discutida em Washington: condicionar a ajuda em dinheiro à reconfiguração da estrutura militar paquistanesa de forma que ela efetivamente combatesse o terror; além de passos concretos para acabar com o apoio institucional ao extremismo. Os cerca de 11 bilhões de dólares enviados ao país desde os atentados de 11 de setembro de 2001 foram desviados para a escalada militar contra a Índia. Este é um padrão que se tornou bastante comum desde que, nos anos 1980, as ISI tomaram bilhões de dólares destinados para a manutenção de guerrilhas antissoviéticas no Afeganistão", escreve em artigo no Japan Times o professor de estudos estratégicos indiano Brahma Chellaney.
Talibãs infiltrados no país
Além da estrutura semioficial de suporte ao extremismo, Obama terá de lidar com a crescente presença dos talibãs na região noroeste do Paquistão. Além de serem os responsáveis pela recente onda de atentados, os militantes do grupo impõem suas próprias e decadentes leis, como o fechamento das escolas para meninas.
Na província do Vale Swat, mais de 100 escolas foram obrigadas a encerrar suas atividades. Comunicados divulgados por rádios informaram que as alunas que ousassem comparecer às aulas corriam o risco de serem atacadas com ácido. De acordo com o advogado e ativista de igualdade de direitos no Paquistão, Yasmeen Hassan, mais de 70 cortes comandadas pelo Talibã operam na província. No dia 20 de janeiro, o parlamento paquistanês votou de maneira unânime pela suspensão do veto escolar às meninas.
Mas essa batalha pelo direito à educação simplesmente resume a dificuldade do governo de Islamabad de combater o domínio radical de boa parte de suas leis e território. E esta será também a maior dificuldade para estabelecer as relações entre o país e os EUA durante a gestão Obama.

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