quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O dilema dos "Estados falidos"

Ao que parece, o Iêmen é a bola da vez na batalha entre o Ocidente - liderado com mais interesse pelos EUA - e o fundamentalismo islâmico - que tem na al-Qaeda, além de sua maior representante, a marca mais forte e que vem conseguindo ser bem sucedida em sua estratégia de "branding", segundo o que os acontecimentos dão a entender.
A pesquisadora iemenita-suíça Elham Manea assina artigo no britânico Guardian onde questiona se seu país de origem será o próximo a se tornar um "Estado falido" ou será qualificado como tal pelo governo americano.
"A fraqueza do governo central, sua inabilidade em penetrar áreas tribais, a topografia montanhosa do país e a posição ambígua de seus líderes diante dos jihadistas locais tudo isso contribui para atrair os membros da al-Qaeda", escreve.
Essas são características que se aplicam não somente ao Iêmen, mas também a Afeganistão, Paquistão, Iraque e Somália, apenas para citar alguns exemplos. Os EUA já estão presentes em dois deles e informalmente têm atuado também no Paquistão. Nada leva a crer que irão abrir uma nova frente no Iêmen, principalmente por conta dos gastos altíssimos que têm sido despendidos desde 2001e cujos resultados são bastante questionáveis.
Não se pode admitir publicamente, mas acredito que este tipo de ataque minimalista como o do voo que seguia rumo a Detroit é impossível de ser inibido por completo. Há indícios de que houve falhas de segurança e não tenho dúvidas de que elas vão voltar a ocorrer. Nenhuma atividade humana consegue ser 100% eficaz. As medidas que visam a antecipar o terrorismo seguem a mesma lógica. Elas podem se tornar mais sofisticadas, mas os terroristas irão inventar novos métodos igualmente complexos e mais difíceis de serem detectados a tempo.
Às autoridades militares e de segurança resta somente estudar mais. Informe divulgado pela consultoria privada Stratfor - de George Friedman, autor do livro que estou sorteando aqui no site - em 4 de novembro já anunciava a possibilidade de um ataque como o que quase ocorreu.
"Al-Wahayshi (Nasir al-Wahayshi, líder da al-Qaeda na Península Arábica), iemenita que serviu como coronel de Osama bin Laden no Afeganistão, notou que os ataques podem ser conduzidos com armas simples, como facas pequenos Aparatos Explosivos Improvisados (IED, sigla em inglês). De acordo com ele, "jihadistas não precisam fazer grande esforço ou gastar muito dinheiro para fabricar dez gramas de material explosivo'".
O texto original contendo todos os "ensinamentos" foi publicado há quase dois meses numa revista eletrônica destinada a radicais islâmicos e reproduzida em diversos sites. Toda empresa procura seu nicho de mercado, não é verdade?
O fato é que impossível imaginar que ações deste tipo não voltem a se repetir. E a solução é continuar o trabalho preventivo de segurança e inteligência. Até porque, como as experiências em Afeganistão e Iraque já mostraram, logisticamente é impossível reconstruir todos os "Estados falidos" do planeta.

2 comentários:

Unknown disse...

Caro Galsky, acompanho suas colunas, com o objetivo de estar bem informado à respeito de política internacional. Gostaria de deixar uma pergunta, que se não puder ou não quizer responder, em nada mudará meu conceito relativo ao seu trabalho. Estão os EUA sozinhos para suportar os gastos em diversas intervenções mundo afora? Como funciona isso, visto que o interesse da presença americana, quase sempre, é o interesse de muitos outros países.abcs Ailton

Unknown disse...

Olá, Ailton. Em primeiro lugar, um ótimo ano novo e muito obrigado por ler sempre o blog; valeu mesmo.
Essa sua pergunta é excelente. Fora o fato de os EUA possuírem o maior orçamento destinado aos gastos militares do planeta, eles são o principal ator em boa parte dos organismos multilaterais de que participam. No caso das incursões internacionais do país, a Otan é o mais importante deles. Como os EUA são os mais interessados em que essa aliança militar exista, é a Washington que cabem os maiores gastos mesmo. Isso é muito importante neste momento atual, uma vez que, com o país em crise, a própria população americana questiona o quanto é válido todo esse esforço. O atentado frustrado do último dia 25de dezembro de certa forma serve para "lembrar" que o terrorismo não é apenas uma ameaça retórica. Acho que é mais ou menos por aí.
Grande abraço,
Henry