O discurso proferido por Obama na noite desta quarta-feira dita os rumos da política americana em seus três anos de mandato restantes. O Estado da União, como é conhecido, trata-se de uma tradição nacional nos Estados Unidos e costuma acontecer a cada início de ano. Como não poderia deixar de ser, a imprensa americana se debruçou sobre as palavras do presidente em busca de interpretações, sinais e avaliações. Com veículos polarizados contra e a favor do que foi dito, existe um clima de que Obama aos poucos está sendo "fritado".
Há uma divisão muito clara nos Estados Unidos entre os veículos progressistas e os mais conservadores. Esse racha pode ser expresso pelas posições defendidas por dois dos principais jornais americanos: o Washington Post e o New York Times. As opiniões de ambos sobre o discurso desta quarta seguem a mesma linha de raciocínio.
Enquanto a publicação da capital procura aprofundar ainda mais as divisões internas e ressaltar os infortúnios do presidente, o New York Times pede mais paciência aos eleitores – muitos deles ainda aguardando que o sonho tão marcante no período da campanha se torne realidade.
"A união está em estado de profunda e justificável ansiedade por conta de empregos, hipotecas e duas longas e sangrentas guerras. O presidente Obama não criou esses problemas, e, muito menos, qualquer um deles pode ser resolvido em um ano. Mas 2009 ofereceu lições para um novo líder em luta para preencher as promessas de sua eleição", avalia editorial do jornal nova-iorquino.
Por outro lado, o Washington Post é bem menos condescendente. Além de lembrar a derrota do partido Democrata na eleição para o Senado, na semana passada, e a inércia do projeto de criar um plano de saúde governamental, o jornal critica o próprio conteúdo do discurso.
"O que Obama ofereceu foram 'pequenas coisas' para todo mundo, às vezes de modo conciliatório, outras vezes combativo, mas sempre soando como um discurso de campanha, apenas mais longo", diz editorial do WaPo. Não se pode qualificar exatamente como um texto elogioso.
Acho que ainda é muito cedo para avaliar Obama, exatamente como escrevi sobre a política externa do presidente americano no post da semana passada. O presidente elegeu como prioridade para o discurso os principais problemas internos: desemprego, hipotecas, falta de perspectivas para tratamento de saúde.
Existe uma enorme ansiedade em aprovar medidas nessas áreas e dar início às mudanças prometidas. E a oposição política nos EUA sabe disso. Obama está pagando com a própria popularidade pela rivalidade entre Democratas e Republicanos. Esses últimos vêm obtendo sucesso em travar as discussões e impedir que o pragmatismo aplicado na política externa, por exemplo, seja repetido nas decisões urgentes que precisam ser tomadas.
Muitas vezes penso que Obama em algum momento vai pagar pela própria ousadia. Regular os bancos – como pediu ontem – e se opor ao financiamento privado de campanha não são medidas populares entre o empresariado. O lobby no Congresso americano existe há muito tempo e, ao contrário do Brasil, a prática não tem conotação necessariamente negativa. Para se ter ideia como a situação está complicada nos Estados Unidos, Obama afirmou ontem que não pensa em renunciar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário