A tragédia que atingiu o Haiti é um fato a que não se pode atribuir culpados ou responsabilidades. A catástrofe é fruto do movimento de placas tectônicas no fundo do mar. Entretanto, soa bastante irônico que a natureza tenha escolhido justamente o país mais pobre das Américas para realizar o maior terremoto de que se tem registro no continente. A partir de agora, o mundo corre para enviar equipes de resgate e ajuda médica e material. Aí sim a política passa a intervir na realidade.
Além da política, os políticos. Não tenham dúvidas de que vai faltar lugar no Haiti para receber centenas de bem intencionados deles. Afinal, todo mundo vai querer ser "pai" desse esforço internacional. O ex-presidente Bill Clinton já se pronunciou sobre a catástrofe em artigo publicado hoje no Washington Post.
"No último mês de junho, aceitei o cargo de enviado especial da ONU para o Haiti com o objetivo de ajudar a implementar um plano de desenvolvimento de longo prazo. Também coordeno o envio de contribuições de origem não governamental envolvendo mais membros da diáspora haitiana", escreve.
Não acho que este tipo de ação seja necessariamente ruim. Acho que uma das funções dos políticos seja essa mesmo. Só penso ser curioso que, ao ocupar seus cargos executivos, este tipo de voluntarismo não seja determinante durante seus mandatos. A filantropia e disponibilidade ficam pra depois. Aliás, já existe uma grande categoria de ex-líderes de países importantes que se dedicam a causas humanitárias para, digamos, manter-se na ativa. Além de Bill Clinton, Al Gore, Jimmy Carter, Tony Blair, Fernando Henrique Cardoso, dentre vários outros.
Por outro lado, o empenho americano nos esforços no Haiti permite aos EUA se conectar novamente com o continente latino-americano. Desde que assumiu a presidência, apesar das tentativas de abrir frentes de diálogo e ação com seus vizinhos do sul, Obama ainda não conseguiu emplacar seus ideais multilaterais na região. Não foi assim durante a reunião da Organização dos Estados Americanos, no ano passado, e tampouco a consolidação de uma aproximação com a América Latina tem ocupado papel de destaque em sua política externa.
Fora, é claro, que o envio internacional de ajuda ao Haiti cria situações inesperadas. Por exemplo, a possibilidade de trabalhadores cubanos e americanos atuarem juntos, já que ambos os países anunciaram o envio de equipes. Seria interessante também ver membros da força de resgate israelense - cuja participação nos esforços humanitários já foi confirmada por Jerusalém - em cooperação com uma eventual equipe de socorro enviada por países árabes.
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