Logo no dia em que ocorreu a tragédia no Haiti, especulei sobre os desdobramentos políticos que o terremoto poderia provocar. Agora, duas semanas depois daquele texto, acho que já é possível analisar os acontecimentos com mais material em mãos.
De fato, concretizou-se a interação entre equipes de resgates de países rivais. Felizmente, a política ficou pra trás em muitos aspectos. Talvez, este seja um dos raríssimos pontos positivos de situações como esta do Haiti.
"Na maior parte do tempo, a política doméstica ocupou um assento secundário, com inimigos trabalhando em proximidade, quando não exatamente lado a lado: israelenses e líbios, paquistaneses e indianos, todos tentando colocar este país novamente de pé", informa reportagem publicada hoje no New York Times.
Além desta conclusão muito clara, há outro ponto interessante. O Brasil tem mais uma vez ocupado papel central num importante palco do cenário internacional. Talvez seja triste falar desta forma, mas a verdade é essa. A missão brasileira no Haiti e o modo como o governo em Brasília se mostra disponível a ajudar com equipamento, militares e dinheiro é destaque inclusive no Fórum Econômico de Davos, na Suíça.
Muito mais do que a atuação das forças armadas na campanha das Nações Unidas para apaziguar o Haiti, antes da tragédia, o governo e o corpo militar brasileiros acabaram por assumir, ao lado dos EUA, os debates de como reconstruir um Estado a partir do zero. É claro que os americanos têm mais gente e dinheiro a empregar, mas o Brasil tem sido o ator latino-americano mais atuante.
Acho inclusive que, cedo ou tarde, novamente o Brasil será chamado a liderar os esforços. Tudo por conta das críticas internas ao governo Obama, que nada tem a ver com sua atual política externa.
Com a queda dos números de popularidade do presidente dos EUA, não há dúvidas de que em algum momento o Haiti vai deixar de ser prioridade e Washington irá se voltar para questões urgentes aos próprios americanos: desemprego e saúde são bons exemplos. Aliás, o próprio Obama prometeu no Estado da União se empenhar ao máximo na busca por soluções nessas áreas.
Por mais incrível que pareça, o Brasil está num momento melhor. Tanto a economia quanto a popularidade de Lula apresentam resultados mais positivos em comparação com os mesmos dados nos EUA. O Haiti vai acabar no colo do Brasil. É a essa mesma conclusão – apenas com a diferença de não mencionar o presidente brasileiro – que chega editorial do Irish Times.
"Como o governo americano vai criar empregos no Haiti com 17 milhões de seus próprios cidadãos desempregados em casa? Os EUA vão construir abrigos para 1 milhão de haitianos quando 600 mil americanos não têm uma casa para morar?", diz o jornal.
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