George Friedman, fundador do grupo Stratfor e autor do livro que vou presentear ao vencedor da promoção, usa o termo "placa tectônica" para nomear regiões do planeta que poderão se transformar em palcos de conflitos neste século. O Oriente Médio não é uma novidade, como todo mundo sabe, e esta placa tectônica está se mexendo agora. O pequeno território de Gaza é novamente protagonista e ao mesmo tempo representante do grande e silencioso conflito da região: a disputa entre xiitas e sunitas.
Apesar de importante, por ora a imprensa brasileira vem dando pouco destaque à construção de uma barreira subterrânea pelo governo do Egito na fronteira com o território palestino controlado pelo Hamas. Nesta quarta-feira, tropas egípcias e membros do grupo terrorista trocaram tiros. O conflito deixou um soldado egípcio morto e ao menos uma dezena de palestinos feridos. Os protestos devido à construção da barreira pelo país árabe devem conseguir maior repercussão a partir desta semana. Mas a cobertura vai se restringir ao fato em si, não ao que ele representa de verdade.
Não se enganem: ao construir um muro subterrâneo para impedir o contrabando de armas e produtos ao Hamas, o Cairo não pretende agradar a Israel, EUA ou quem quer que seja. O objetivo é mandar mais um recado a Síria e Irã. A mensagem é clara: o Egito considera esta zona como sua e não vai tolerar a interferência dos xiitas por ali. Lembrem-se do grande conflito entre xiitas e sunitas mencionado no primeiro parágrafo e objeto de atenção de outros tantos textos publicados aqui.
Não apenas a interferência de Síria e Irã num território localizado quase no interior do Egito, mas também o programa nuclear iraniano são exemplos de batalhas importantes que evidenciam a disputa entre os dois grupos muçulmanos em busca de afirmação e hegemonia no Oriente Médio. O presidente Hosni Mubarak quer deixar claro internacionalmente – e principalmente na região – quem dá as cartas.
Interessante notar que uma das iniciativas do Hamas após o enfrentamento com tropas egípcias foi retomar o lançamento de mísseis sobre o sul de Israel. O objetivo é usar a única arma de que dispõe para unir a opinião pública muçulmana e desviar a atenção para o conflito estratégico em curso. Além disso, de certa forma, pretende colocar o Egito numa posição constrangedora diante dos demais países islâmicos ao usar uma lógica superficial, mas bastante eficaz para os menos atentos: se o Cairo combate o Hamas e este por sua vez combate Israel, logo o Egito estaria se aliando militarmente a Israel, um pecado mortal na visão da opinião pública dos países árabes e muçulmanos.
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