Acho curiosa a reedição da polêmica acerca da escolha política dos aviões franceses a serem comprados pelo Brasil. Numa época em que a imprensa sofre para encontrar pautas por conta dos efeitos das festas de fim de ano e da lenta retomada da vida cotidiana no país, não chega a surpreender a opção por reviver um assunto já amplamente discutido em setembro do ano passado. Aliás, a Folha conseguiu uma nova e importante informação sobre a questão: o relatório militar que aponta a empresa sueca, e não a francesa, como mais adequada.
O que me parece fundamental aí é dividir o assunto em duas partes. Primeiro, o documento elaborado pelas forças armadas apresenta posições e justificativas militares sobre a escolha. E, meus amigos, as escolhas nesta área não se baseiam apenas em avaliações técnicas. Porque, é sempre bom lembrar, comprar equipamento militar deste ou daquele país é um dado importante para o estabelecimento de alianças políticas, não somente militares. Aviões de guerra ou defesa não são geladeiras. As aquisições não são feitas somente a partir do preço.
Em setembro do ano passado escrevi dois textos sobre a opção pela França. E me permito reproduzir aqui parte dos argumentos usados na época – e que, creio, continuam sendo válidos agora.
Quando esteve por aqui em 2009, Sarkozy disse ter a intenção de promover modificações de organismos multilaterais um tanto ultrapassados.
O mais arcaico e poderoso é o G-8, criado no século passado por potências do século passado e baseado em parâmetros de poder do século passado. O presidente francês se antecipou à falência declarada do grupo e mostrou ter decidido pular fora do barco antes que ele naufrague de vez. Ele propôs ampliá-lo no mínimo em seis países – com o Brasil incluído, claro.
E este foi o pulo-do-gato da parceria que se torna a cada dia mais concreta entre Paris e Brasília. Ambos sabem que é preciso enxergar a nova ordem mundial (no caso da aproximação com uma potência emergente como o Brasil), mas sem abrir mão do poder conquistado até aqui (sob a ótica brasileira, é importante ter a França como um aliado estratégico, já que ela é reconhecida como tal pelos demais países que ainda mantêm o status quo internacional e pode inclusive participar da viabilização de um assento permanente ao Brasil no Conselho de Segurança da ONU, o grande sonho de consumo da política externa brasileira).
O governo francês vem se encaixando como pode nesta característica de parceria, alianças e participação em diversas questões internacionais. Não é à toa que, após ter se destacado no estancamento da guerra entre Israel e o Hamas em Gaza no início do ano passado, decidiu retornar à OTAN após 43 anos de afastamento. Associar-se a um país que se configura como potência de acordo com os novos moldes internacionais é parte de uma estratégia maior.
Num mundo onde valores como supremacia bélica e corrida armamentista dão lugar aos poucos às variáveis econômicas, a França parece ter escolhido o Brasil como parceiro. Vale lembrar que, dentre os membros dos BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil parece ser o único que apresenta características mais próximas à França – um Estado laico democrático e ocidental. Não é à toa que Sarkozy esteve por aqui. Vender helicópteros e aviões me parece ser apenas a ponta do iceberg.
O que me parece fundamental aí é dividir o assunto em duas partes. Primeiro, o documento elaborado pelas forças armadas apresenta posições e justificativas militares sobre a escolha. E, meus amigos, as escolhas nesta área não se baseiam apenas em avaliações técnicas. Porque, é sempre bom lembrar, comprar equipamento militar deste ou daquele país é um dado importante para o estabelecimento de alianças políticas, não somente militares. Aviões de guerra ou defesa não são geladeiras. As aquisições não são feitas somente a partir do preço.
Em setembro do ano passado escrevi dois textos sobre a opção pela França. E me permito reproduzir aqui parte dos argumentos usados na época – e que, creio, continuam sendo válidos agora.
Quando esteve por aqui em 2009, Sarkozy disse ter a intenção de promover modificações de organismos multilaterais um tanto ultrapassados.
O mais arcaico e poderoso é o G-8, criado no século passado por potências do século passado e baseado em parâmetros de poder do século passado. O presidente francês se antecipou à falência declarada do grupo e mostrou ter decidido pular fora do barco antes que ele naufrague de vez. Ele propôs ampliá-lo no mínimo em seis países – com o Brasil incluído, claro.
E este foi o pulo-do-gato da parceria que se torna a cada dia mais concreta entre Paris e Brasília. Ambos sabem que é preciso enxergar a nova ordem mundial (no caso da aproximação com uma potência emergente como o Brasil), mas sem abrir mão do poder conquistado até aqui (sob a ótica brasileira, é importante ter a França como um aliado estratégico, já que ela é reconhecida como tal pelos demais países que ainda mantêm o status quo internacional e pode inclusive participar da viabilização de um assento permanente ao Brasil no Conselho de Segurança da ONU, o grande sonho de consumo da política externa brasileira).
O governo francês vem se encaixando como pode nesta característica de parceria, alianças e participação em diversas questões internacionais. Não é à toa que, após ter se destacado no estancamento da guerra entre Israel e o Hamas em Gaza no início do ano passado, decidiu retornar à OTAN após 43 anos de afastamento. Associar-se a um país que se configura como potência de acordo com os novos moldes internacionais é parte de uma estratégia maior.
Num mundo onde valores como supremacia bélica e corrida armamentista dão lugar aos poucos às variáveis econômicas, a França parece ter escolhido o Brasil como parceiro. Vale lembrar que, dentre os membros dos BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil parece ser o único que apresenta características mais próximas à França – um Estado laico democrático e ocidental. Não é à toa que Sarkozy esteve por aqui. Vender helicópteros e aviões me parece ser apenas a ponta do iceberg.
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