Numa decisão semelhante ao banimento da construção de minaretes na Suíça, em novembro passado, uma comissão parlamentar francesa deu mais um passo para complicar as relações com os muçulmanos que vivem no país. O grupo de legisladores recomendou, nesta terça-feira, a proibição do uso de véus em lugares públicos, como hospitais, escolas e nos transportes.
Sem a menor dúvida, a decisão vai causar muita polêmica. Apesar de se tratar de uma escolha política interna francesa, a controvérsia deve se espalhar e provocar debates intensos em todo o mundo.
E a verdade é que o governo Sarkozy vai se expor a represálias de toda sorte sem qualquer necessidade real. Vale dizer que o próprio Ministério do Interior francês acredita que apenas 1,9 mil mulheres costumam fazer uso do niqab, o véu que deixa apenas os olhos à mostra.
Existe uma grande preocupação sobre o caráter republicano e laico do país. Daí os debates internos sobre eventuais ameaças que essa vestimenta tradicional islâmica poderia causar. Em resumo, por maior que seja o temor acerca das influências muçulmanas no DNA da república francesa, é preciso ter bom senso.
Ainda que os cinco milhões de muçulmanos franceses usassem o niqab - e não usam, como se sabe, até porque o contingente não é composto apenas por mulheres, é claro - os demais 59 milhões de habitantes não o fariam. Há um grande frenesi em torno da questão, quando, de fato, é preciso se preocupar com assuntos mais importantes. A França mostra, mais uma vez, um pouco do pensamento europeu atual, como escrevi algumas vezes por aqui.
Os países do continente se fecham em torno de seus próprios problemas, esquecendo-se dos grandes dilemas internacionais. É uma estratégia muito pouco eficaz e fica cada vez mais claro pra mim a possibilidade de que a Europa fique de fora das grandes decisões globais.
E olha que a França nem é um dos maiores adeptos desta política que vem tomando conta do continente. Paris decidiu retornar à Otan, em 2009, após 43 anos de afastamento voluntário da aliança militar ocidental. O presidente Sarkozy volta e meia se mostra preocupado em se aproximar de países em desenvolvimento, como o Brasil, evidenciando estar atento à mudança das relações internacionais.
A discussão em torno do uso do véu na França é um passo atrás, ao meu ver, por dificultar a vida dos muçulmanos no país. Mas essa é uma questão um tanto obsessiva de seus governantes, que, com certa frequência, acaba ocupando o centro das discussões.
Um comentário:
Esse tema é interessante ate onde o estado “laico” pode interferir na livre manifestação religiosa das pessoas.
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