A semana termina exatamente como na última sexta-feira. Quem imaginava que o caso de espionagem e revide envolvendo Google e China terminaria sem maior repercussão enganou-se por completo. Na verdade, a situação adquiriu proporções ainda maiores, com o choque entre as partes rumando para pôr em rota de colisão os governos de Beijing e Washington.
Curiosamente, no dia seguinte ao anúncio de que a China deve ultrapassar o Japão e se ancorar no segundo lugar do ranking das maiores economias do mundo, a secretária de Estado Hillary Clinton decidiu comprar oficialmente a briga do Google. A posição do governo americano é de que o livre acesso à internet é prioridade em sua política externa.
Antes de assumir qualquer traço de teoria da conspiração, deixo claro que este é simplesmente um passo natural das decisões americanas. Ninguém acredita que os EUA se distanciarão da China no ranking econômico apenas condenando suas posições virtuais. E nem é esta a intenção.
A ideia é simplesmente transportar valores caros aos americanos para o terreno da internet. Ora, se existe um discurso de que é ponto fundamental exportar o conceito de democracia na prática, como deixar de fora tal requinte teórico do universo virtual?
Por outro lado, a situação não é tão óbvia assim. Afinal, nem Clinton, nem Obama são inocentes o bastante para imaginar que podem mudar o planeta fomentando os dissidentes virtuais em países resistentes à diplomacia americana. Mas vale lembrar o poder que as novas ferramentas de comunicação têm tido em episódios internacionais recentes.
Os protestos na Grécia, em 2008, foram convocados pelo Twitter. O mesmo aconteceu no início de 2009 quando a Ucrânia ficou sem gás por conta de represálias russas. O caso mais significativo é o caos pós-eleitoral no Irã, em junho do ano passado. Graças a vídeos postados no Youtube o mundo pode ter a mínima ideia do que se passava por lá, uma vez que os jornalistas foram impedidos de trabalhar livremente.
Não por acaso, um grupo de cinco senadores americanos pressiona Washington a liberar 45 milhões de dólares para apoiar a liberdade de acesso à internet. A movimentação lembra bastante o apoio financeiro dado pelos EUA a veículos de comunicação que se opunham ao comunismo durante a Guerra Fria. Hoje os métodos são diferente, mas os objetivos, semelhantes aos daqueles tempos.
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