A partir de amanhã o foco do mundo vai se voltar novamente para o Afeganistão. Ou melhor, para Londres, onde ocorre uma conferência entre os ministros das Relações Exteriores dos membros da Otan, a aliança militar ocidental cujas tropas atuam na Ásia ao lado das forças americanas. Não é a primeira nem vai ser a última reunião para pensar em formas viáveis de se reconstruir e governar o país. A diferença é que este é um momento diferente.
Em primeiro lugar, há uma mudança teórica sobre a abordagem que deve ser aplicada ao Talibã. Se, em 2001, quando o Afeganistão foi invadido após os atentados de 11 de Setembro, o objetivo era encontrar Osama Bin Laden, hoje já se trabalha com a possibilidade de o líder da al-Qaeda não ser encontrado. EUA e Otan procuram uma forma de lidar com o Talibã, grupo fundamentalista que deu abrigo a Bin Laden e que, apesar de toda a gigantesca soma de dinheiro empregada na ofensiva ocidental, ainda insiste em ser um ator importante no país.
Há, no entanto, algumas mensagens contraditórias que antecipam a conferência. Se por um lado o presidente Obama anunciou no ano passado o envio de mais 30 mil soldados – que se juntarão aos 70 mil que já atuam no Afeganistão –, a grande imprensa americana tem como certo o estabelecimento de um diálogo com talibãs considerados moderados. O New York Times, inclusive, publica matéria onde afirma que, nesta quinta, EUA, Japão e Grã-Bretanha devem liberar cerca de 100 milhões de dólares para investir na criação de empregos para membros do Talibã que queiram deixar as armas e construir uma nova vida.
Por mais que este pareça um passo inteligente, como justificar à própria opinião pública – que, afinal, paga as contas da empreitada militar com seus impostos – quais os motivos para a estratégia não ter sido adotada evitando o grande número de baixas e os altíssimos gastos? Como justificar os oito anos de discursos contra o Talibã e seus atos injustificáveis de jogar ácido em mulheres que insistiam em frequentar escolas?
Os sinais de que esta mudança de abordagem é bem provável estão cada vez mais claros. A ONU decidiu retirar de sua própria lista de foras-da-lei os nomes de cinco ex-ministros do governo Talibã – autoridade anterior à invasão americana – considerados moderados. Há outros 140 talibãs na lista por conta de possíveis ligações com a al-Qaeda.
Otan e EUA ao que parecem decidiram esquecer quaisquer traços ideológicos e adotar o pragmatismo. Se não é possível eliminar o Talibã de vez, o melhor a ser feito é negociar com o grupo. Mas nem tudo é tão óbvio quanto parece. Ao mesmo tempo em que os sinais de modificação estratégica começam a aparecer, a revista alemã Der Spiegel teve acesso a um rascunho de algumas propostas que serão apresentadas na conferência que se inicia amanhã. O texto menciona não apenas a tentativa de dobrar os talibãs com remuneração, mas também a intenção da Otan de permanecer no país por mais alguns bons anos – o tempo específico não é mencionado.
Ou seja, há perguntas de sobra a serem feitas e talvez esta conferência possa servir para unificar planos. Até porque não me parece que, por mais que os membros moderados do Talibã fiquem satisfeitos com a criação de empregos, os ex-combatentes do grupo aceitem a presença das tropas da Otan no Afeganistão por tempo indefinido
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