E enquanto a Europa Ocidental se esforça para colocar a cabeça de fora da água, a Rússia aprontou mais uma. Ou melhor, mais duas. No mesmo dia em que a Grécia era jogada para debaixo do tapete, Moscou pôde comemorar duas importantes conquistas internacionais. Conseguiu a manutenção de sua base naval de Sevastopol, na Ucrânia, além de ter chegado a um acordo sobre a divisão da fronteira marítima do Ártico com a Noruega.
Ambas as ações constituem significativos sucessos da marca do governo Medvedev-Putin: a política externa do gás. As conquistas russas internacionais têm se baseado na chantagem, troca ou interrupção do abastecimento da matriz energética. Foi assim com a própria Ucrânia, em 2009, e aconteceu o mesmo ontem: graças ao desconto de 30% que Moscou prometeu a Kiev, a permanência da frota russa no Mar Negro se fez possível.
Desta maneira, o Kremlin consegue impedir a aproximação da Ucrânia com o Ocidente, movimento antigo e que incomodava bastante a Rússia. Afinal, mantém sua influência no país ao sustentar o fornecimento de gás pelo menos até 2042. Qualquer atitude que desagrade a Moscou por parte de Kiev será rechaçada com a sabotagem do abastecimento. Não tenho qualquer dúvida sobre isso. Vale lembrar também que esta é a consagração de uma pressão política conquistada graças à eleição do atual presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, velho aliado dos russos.
Agora, ao vender sua alma por 30% de desconto na compra do gás russo, a Ucrânia dá adeus a projetos como a adesão à União Europeia e à OTAN. Moscou jamais permitiria tal rebeldia. Para completar, Putin mantém vivo seu sonho de reconstruir as zonas de influência políticas russas na Europa Oriental. É como entrar no DeLorean e desembarcar na década de 1950 em algum ponto da União Soviética.
Com o gás, a Rússia também pressionou a Noruega, país com o qual se mantinha em disputa há 40 anos. Os dois são os maiores fornecedores de energia da Europa, muito embora a produção de petróleo norueguesa esteja em queda. Medvedev decidiu fazer uma visita e foi direto: a única salvação seria dividir os 175 mil quilômetros quadrados do Mar de Barents e do Oceano Ártico em dois. Fim da disputa e Oslo e Moscou planejam a exploração conjunta da região. Existe a possibilidade de se descobrir um lençol de petróleo sob essas águas; algo em torno de 10 mil barris.
É a Rússia emergindo enquanto o resto da Europa submerge entre a crise econômica e as cinzas do vulcão cujo nome jamais será pronunciado corretamente por essas bandas.
PS1: obrigado ao História Viva por colocar o blog entre os melhores da semana.
PS2: entre amanhã e segunda-feira viajarei a trabalho. Portanto, não garanto que poderei postar com a frequência habitual.