Hoje é um daqueles dias em que todos os movimentos são importantes. Inclusive os menores. Aliás, principalmente esses. Ainda sem muitas explicações, dois mísseis Grad de fabricação russa atingiram um armazém no Porto de Ácaba na Jordânia. Não houve feridos. Há um tanto de mistério nesta situação. Até porque nenhum país árabe ou islâmico iria atingir uma cidade jordaniana propositalmente neste momento. Muito provavelmente, o alvo do ataque era o balneário israelense de Eilat.
Já se sabe que os mísseis foram disparados de algum ponto do deserto do Sinai, no Egito. Seguramente, não por forças oficiais do país, que mantém relações com Israel. Curiosamente, o ataque acontece justamente quando a região é sacudida pelas acusações israelenses de que a Síria tem transferido mísseis scud para o Hezbolah, no Líbano.
O episódio desta quinta-feira pode marcar o fim de um período de certa tranquilidade no Oriente Médio. Os acontecimentos se sucedem em ritmo acelerado rumo ao grande conflito do qual venho tratando há um tempo por aqui: entre a aliança xiita em busca de hegemonia e os Estados sunitas moderados que desejam a manutenção do status quo.
Hoje, o Irã deu início a mais uma ação promocional de seu poder militar. O país realiza outro exercício de guerra no estreito de Hormuz – o mesmo que Ahmadinejad disse que iria fechar no caso de sofrer um ataque de EUA e Israel. Não há muita novidade nesse tipo de manobra que os iranianos fazem desde 2006. Curioso mesmo é que, desta vez, Teerã optou pela demonstração de força no início do ano. Até agora, a república islâmica realizava os exercícios militares no final do ano. Não me espantaria se a mudança tivesse a ver com a o anúncio da nova política nuclear americana e do crescente empenho de Barack Obama para aprovar o novo pacote de sanções.
Como possivelmente todos os países da região estarão envolvidos de alguma maneira num eventual conflito, as lideranças do Oriente Médio estão procurando acomodação. Ou melhor, antecipação. Por isso, existe grande possibilidade de um encontro entre os presidentes da Síria e do Egito acontecer nas próximas semanas. Pelo menos é o que informa o influente jornal árabe Al-Hayat.
Se isso ocorrer, vão estar frente a frente dois dos principais e opostos líderes do Oriente Médio. Hosni Mubarak, presidente do sunita Egito, e Bashar Assad, presidente xiita sírio aliado de Irã, Hezbolah e Hamas. Segundo os jornalistas do Haaretz Amos Harel e Avi Isacharoff, haverá uma conversa franca, direta e sem meias palavras entre os dois presidentes (que não se encontram há quatro anos):
"Assad vai ser informado sobre a posição egípcia de que Damasco está colocando a região em risco ao transferir mísseis scud para o Líbano", escrevem. Ou seja, há a política de bastidores e os comunicados para a imprensa. Abertamente, nem Síria, nem Líbano admitem o repasse de armamento pesado. Na prática, no entanto, todas as lideranças já trabalham a partir dessas informações e iniciam um processo de articulação que pode terminar na deflagração da próxima grande guerra regional.
Fica evidente que, se os EUA preferem fingir que nada está acontecendo, seus aliados e inimigos pensam de maneira diferente. Cada um a seu modo se prepara como pode para enfrentar o que parece inevitável.
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