Já escrevi alguma vezes sobre o Sudão aqui no blog. A catástrofe que ocorre no país desde 2003 não sensibiliza o mundo de nenhuma maneira. Nada surte efeito; nem os 300 mil mortos, nem os quase 3 milhões que foram deslocados de suas casas desde a eclosão do conflito entre o sul - de população majoritariamente cristã - e o norte - onde a maior parte dos habitantes é de árabes muçulmanos. Hoje, mais um capítulo desastroso foi escrito nessa história: o presidente Omar al-Bashir (foto), a principal autoridade política responsável pelo genocídio em Darfur, foi reeleito com 68% dos votos.
É importante deixar claro que observadores da União Europeia e do Centro Carter (do ex-presidente americano Jimmy Carter) consideraram a transparência do pleito "abaixo dos padrões internacionais". A frase nada mais é do um eufemismo para fraude eleitoral. Os dois principais concorrentes de al-Bashir já haviam se retirado da disputa justamente para denunciar o jogo de cartas marcadas.
Agora, o presidente do país vai fazer o que puder de forma a capitalizar para si o resultado das urnas. Acusado por crimes de guerra e contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), vai se valer das circunstâncias do país para livrar-se de qualquer culpa. Como a situação do Sudão é de permanente incerteza, Bashir vai advogar o papel de única liderança política capaz de criar alguma estabilidade.
Ou seja, ao supostamente receber este voto de aprovação nas urnas, Bashir vai ligar os pontos, principalmente após um final de semana de mais conflitos, quando 55 pessoas foram mortas no sul do país: com quase 70% dos eleitores a seu favor - o Egito, por exemplo, já se movimenta nos bastidores para evitar que líderes africanos condenem o processo eleitoral no Sudão -, Bashir vai chantagear a comunidade internacional ao se colocar como o único com poder político suficiente para impedir mais derramamento de sangue.
Os organismos multilaterais vão protelar mais ainda qualquer condenação ao presidente sudanês em virtude da enorme culpa que carregam por nada terem feito nesses setes anos de genocídio em Darfur. O argumento de Bashir vai ser muito claro: ou permanece intocável ou não fará qualquer movimento para frear a imimente guerra entre sul e norte capaz de acrescentar mais mortes ao já deteriorado país. O histórico de inércia das Nações Unidas é longo e nada leva a crer que este quadro vai mudar. Por isso, acredito seriamente que Bashir será reeleito e tudo vai permanecer como está no Sudão. Desta vez, no entanto, com o aval internacional.
2 comentários:
É um absurdo. As autoridades tais, de nada servem. Sugam dinheiro para dar laudos inconsistentes como, muito bem dito, um eufemismo -- o que é na prática dizer sem querer dizer nada. Para quê serve então? Jimmy Carter para quê? É melhor chamar a Susan Boyle.
É a mesma coisa que passamos aqui no Rio: o que é pauta quando o fato ocorre no Leblon ou Baixada? Um atentado em Londres, NY vale mais que um genocídio por anos no Sudão. Uma pena.
Obrigado, Henry por escrever sobre esse fato. Pena que a denúncia é marginal.
Obrigado pelas palavras, Vágner. Acho que uma das missões do Jornalismo é estar atento a este tipo de acontecimento. Mais ainda, os blogs podem contribuir muito. Afinal, cada um pode criar seu próprio meio. Agora, considero uma vergonha os jornais brasileiros simplesmente optarem por ignorar a tragédia no Sudão.
Grande abraço.
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