segunda-feira, 19 de abril de 2010

Brasil aposta alto no Irã

Não deixa de ser irônico o anúncio do Irã, nesta segunda-feira, de que vai construir mais uma usina nuclear para enriquecimento de urânio. Mostra a disposição do país de sustentar o enfrentamento com o Ocidente e levá-lo às últimas consequências. Também aumenta a expectativa quanto ao encontro de Lula e Ahmadinejad, em menos de um mês.

Por outro lado, no entanto, a declaração complementar de Mojtaba Samareh-Hashemi, assessor sênior do presidente iraniano, pode jogar um balde de água fria numa das pretensões brasileiras. Ele afirmou que, mesmo se Teerã vier a importar urânio enriquecido, não pretende interromper seu próprio processo de enriquecimento.

O Brasil já chegou a ser cogitado para realizar o processo e devolver o material para o Irã. Agora, mesmo que isso acontecesse, a república islâmica não estar disposta a voltar atrás no jogo. Ou seja, uma das principais possibilidades de barganha brasileira foi para o espaço.

O leitor Tiago Duarte apresentou uma teoria interessante sobre o encontro de Lula e Ahmadinejad. O resultado apresentado ao mundo poderia ser a autorização a técnicos brasileiros para inspecionarem as usinas iranianas. De fato, esta seria uma decisão positiva para os dois países.

Agora, minha interpretação sobre isso: para o Brasil, seria uma tremenda vitória num dos principais palcos de disputa internacional. O governo brasileiro seria, no fim das contas, o olho do mundo no Irã e poderia capitalizar o acordo para suas pretensões no Conselho de Segurança da ONU.

Ahmadinejad um lado positivo ao seabrir seu programa nuclear sem ceder à EUA ou Europa, seus maiores rivais. As autoridades iranianas mandariam um recado deixando claro que estariam dispostas a negociar, desde que não fossem pressionadas. As instalações seriam inspecionadas por técnicos do país que ainda lhes fornece um voto de confiança.

O problema para o Brasil seria se, cedo ou tarde, o Irã produzisse armamentos nucleares. Os objetivos internacionais do Itamaraty não seriam alcançados e o país entraria para a história mundial por não ter descoberto as reais intenções iranianas. Além, é claro, de se tornar o protagonista de um equívoco cujas consequências ninguém sabe quais serão.

Nenhum comentário: