terça-feira, 20 de abril de 2010

Indefinição americana

Os Estados Unidos acabaram tendo de se pronunciar sobre as acusações israelenses de que a Síria estaria provendo o Hezbolah, no Líbano, de mísseis scuds de longo alcance. A situação é delicada por uma série de razões. Em primeiro lugar, porque o governo de Damasco nega com veemência que seja provedor do armamento (aliás, esta é a única atitude possível. Imagina se Bashar Assad admitisse tal fornecimento?). Segundo porque a Casa Branca vive um momento de traumas e indefinições na condução de sua política externa.

A crise de autoconfiança americana no campo internacional é antiga. Mencionei o assunto na semana passada e o retomo agora: os EUA de Obama enfrentam um impasse com o programa nuclear iraniano que é associado pelos seus inimigos à busca de George W. Bush por armas de destruição em massa no Iraque. Mas as diferenças são muitas. Do ponto de vista político, o atual presidente é muito mais preocupado com a construção de uma realidade internacional multilateral do que seu antecessor.
Outro ponto importante é lembrar a quantidade de ocasiões em que as autoridades iranianas foram convidadas a conversar com os americanos sobre seus propósitos. Os inúmeros pedidos de Obama nunca foram aceitos. Pelo contrário. Ahmadinejad cada vez mais sobe o tom e tem como estratégia a oposição aos EUA, não a busca por conciliação.

De qualquer maneira, Obama reluta em anunciar ações práticas e tem enfrentado dificuldades para conseguir apoio a seu pacote de sanções. O presidente americano teme ser associado ao histórico de rejeição de Bush. Para isso, ele procura se distanciar o quanto pode de atitudes unilaterais. Ele quer punir Teerã. Mas pretende fazê-lo com a compreensão da comunidade internacional e no mais importante fórum internacional, a ONU.

Vale lembrar também que, se dentro de casa Obama atravessa um momento difícil - em março ele atingiu o mais baixo nível de aprovação desde que assumiu o cargo, 45% - ainda conta com admiração fora dos EUA. Se derrapar, não vai ter mais onde se escorar. Portanto, as questões internacionais adquirem maior importância. Se conseguir reverter a situação no Irã, por exemplo, pode conquistar apoio doméstico.

Mas quando a fase é ruim, tudo parece contribuir para aprofundar a crise. Neste final de semana, o New York Times publicou relatório do secretário de Defesa, Robert Gates, em que ele admite que os EUA não têm qualquer estratégia ou plano para o caso de o Irã insistir na busca por armamento atômico. Como isso seguramente vai acontecer - Ahmadinejad não dá qualquer sinal de que pretende recuar - a maior potência do planeta não sabe o que vai fazer.

Ou seja, atualmente o governo de Washington dá mostras de estar congelado pelo trauma. Reluta no Irã pelo senso de responsabilidade que carrega pela invasão do Iraque, em 2003. Mas precisa se pronunciar sobre assuntos importantes, como as acusações de Israel ao presidente sírio, Bashar Assad.
Por isso, Obama mandou convocar o chefe da missão do país na capital americana para comunicar que os EUA estão preocupados com a transferência de armamento para o Hezbolah. O episódio serve que, por mais que a calma no Oriente Médio seja um tanto sedutora ela é bastante aparente. Cedo ou tarde, a escalada iria começar. E ninguém pode conceber que a Casa Branca continue a não ter qualquer plano para resolver os impasses da região.

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