terça-feira, 13 de abril de 2010

Polêmica nuclear envolve Paquistão, Irã e Harvard

Durante os regates após o terremoto no Chile, foram encontrados indícios de material nuclear. A Argentina mantém um programa civil. O Brasil também. Diante da escassez energética de nossos tempos, muitos países desenvolvem usinas para produção de formas alternativas de abastecimento. Não é o caso apenas dos países sul-americanos, como se sabe. Aliás, o continente nem pode ser considerado um perigo para o equilíbrio mundial.

O encontro que se encerra hoje em Washington afirma que o maior risco para o Ocidente é justamente a possibilidade de o material nuclear cair nas mãos de organizações terroristas. Embora muitas vezes todo este discurso soe apenas como politicamente correto, eu sinceramente não estaria disposto a pagar para ver.

Existe um tanto de incredulidade na iniciativa americana de reunir 46 países para discutir segurança nuclear. Este pé atrás pode ser explicado talvez pela invasão ao Iraque, em 2003. A decisão do governo Bush foi precedida de debates e apresentações que pretendiam mostrar que Saddam Hussein detinha as tão faladas armas de destruição em massa. Como elas nunca foram encontradas, acho que, de certa maneira, a má-vontade mundial em relação à posição nuclear atual dos EUA guarda resquícios da ofensiva em solo iraquiano.
Alguns resultados curiosos têm sucedido as declarações de líderes reunidos na cúpula em Washington. Em primeiro lugar, a relutância e reatividade iranianas. Não havia como a reação ser diferente. Entretanto, o regime de Ahmadinejad sempre aproveita tais ocasiões para responder com ironias. Foi o que fez mais uma vez ao afirmar que, a partir deste final de semana, vai promover o seu próprio encontro para debater a proliferação de armamento nuclear. A decisão de Teerã me lembrou uma outra: em 2006, a república islâmica promoveu um concurso de charges sobre o Holocausto. Uma brincadeira de péssimo gosto e que tinha como objetivo provocar o Ocidente e, principalmente, Israel.

Outra consequência das reuniões na capital americana veio do aliado Paquistão. Tal como publicado neste espaço ontem, a corrida nuclear promovida por Islamabad é um risco real à segurança mundial, já que há acusações sobre a capacidade do país de manter seu arsenal a salvo de organizações terroristas - nunca é demais lembrar que Talibã e al-Qaeda atuam com certa liberdade no território. Mas as autoridades paquistanesas asseguram que seu esquema de segurança é de alto nível:

"Eu garanto que o Paquistão, como Estado nuclear responsável e democracia emergente, está ao lado da comunidade internacional em seu esforço de tornar este mundo um lugar melhor para se viver", disse o primeiro-ministro, Yousuf Raza Gilani. A dúvida que paira sobre as cabeças mais atentas a este assunto é justamente se um governo em frangalhos - que sequer consegue controlar suas próprias forças de segurança - irá conseguir manter o armamento atômico longe do alcance dos fundamentalistas que entram e saem de suas fronteiras perenes.

O problema é que estudo da Kennedy School of Government, da Universidade de Harvard, não concorda com isso. Para o professor Matthew Bunn, coordenador da pesquisa, o governo paquistanês está mais empenhado em proteger seu arsenal de ataques da Índia. Para ele, Islamabad não mostra o mesmo empenho para evitar o acesso por parte de terroristas. Fica a critério de cada um escolher em quem depositar sua confiança: nos acadêmicos de Harvard ou nos políticos do Paquistão.

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