A revolta no Quirguistão causou tanta surpresa que a imprensa ocidental ainda está um tanto perdida sobre as causas que levaram a população a tomar o palácio presidencial e exigir a renúncia de Kurmanbek Bakiyev. Num primeiro momento, chegou a haver um consenso de que a corrupção do presidente do país seria suficiente para explicar a situação. Depois, rumores sobre insatisfação quanto ao preço cobrado no fornecimento de aquecimento e eletricidade completaram o quadro de justificativas.
Não penso que este ou aquele motivo tenha motivado a revolta popular em curso por lá, mas é bem possível que a união de todos os fatores permita a compreensão do que está acontecendo. O interessante é perceber que ninguém parece estar muito preocupado com isso de fato, mas nas consequências desta confusão para a política externa americana.
De fato, o Quirguistão isoladamente não tem muita importância no sistema internacional. Mas a região onde está localizado é fundamental no tabuleiro de ações geopolítico atual. Qualquer movimento significativo na Ásia Central interessa. A região é hoje um palco tão importante quanto o Oriente Médio.
No entanto, acho um tanto reducionista o caminho que vem sendo escolhido para esclarecer os interesses de Rússia e Estados Unidos no Quirguistão. A simples existência de bases militares das duas potências no país explica apenas em parte a ansiedade americana – mais até do que russa – em relação aos acontecimentos das últimas 24 horas.
Mencionar que a base de Manas instalada no país abastece com munição, alimentos e logística militar as tropas dos EUA e da Otan no Afeganistão é importante. Mas a complexidade é muito maior do que isso. Qualquer movimentação na região é observada com profundo interesse pela equipe internacional de Obama. A Ásia Central é um dos principais – senão o principal – campo de atuação externa do presidente americano. Ao deixar claro que considerava a guerra no Afeganistão justa, Obama acabou por encampar todos os problemas políticos dos países vizinhos.
Por isso ele teve receio ao comentar a aprovação do Congresso do termo “genocídio” para se referir ao assassinato de 1,5 milhão de armênios pelos turcos no início do século 20. A medida pressiona o presidente americano a confrontar não apenas a Turquia, mas também seu aliado Azerbaijão. Da mesma maneira, a aproximação com a Rússia é mais uma tentativa de diminuir oposições na região, uma vez que os Estados Unidos já têm problemas suficientes para resolver em Paquistão e Afeganistão.
Não penso que este ou aquele motivo tenha motivado a revolta popular em curso por lá, mas é bem possível que a união de todos os fatores permita a compreensão do que está acontecendo. O interessante é perceber que ninguém parece estar muito preocupado com isso de fato, mas nas consequências desta confusão para a política externa americana.
De fato, o Quirguistão isoladamente não tem muita importância no sistema internacional. Mas a região onde está localizado é fundamental no tabuleiro de ações geopolítico atual. Qualquer movimento significativo na Ásia Central interessa. A região é hoje um palco tão importante quanto o Oriente Médio.
No entanto, acho um tanto reducionista o caminho que vem sendo escolhido para esclarecer os interesses de Rússia e Estados Unidos no Quirguistão. A simples existência de bases militares das duas potências no país explica apenas em parte a ansiedade americana – mais até do que russa – em relação aos acontecimentos das últimas 24 horas.
Mencionar que a base de Manas instalada no país abastece com munição, alimentos e logística militar as tropas dos EUA e da Otan no Afeganistão é importante. Mas a complexidade é muito maior do que isso. Qualquer movimentação na região é observada com profundo interesse pela equipe internacional de Obama. A Ásia Central é um dos principais – senão o principal – campo de atuação externa do presidente americano. Ao deixar claro que considerava a guerra no Afeganistão justa, Obama acabou por encampar todos os problemas políticos dos países vizinhos.
Por isso ele teve receio ao comentar a aprovação do Congresso do termo “genocídio” para se referir ao assassinato de 1,5 milhão de armênios pelos turcos no início do século 20. A medida pressiona o presidente americano a confrontar não apenas a Turquia, mas também seu aliado Azerbaijão. Da mesma maneira, a aproximação com a Rússia é mais uma tentativa de diminuir oposições na região, uma vez que os Estados Unidos já têm problemas suficientes para resolver em Paquistão e Afeganistão.
O problema é que a crise no Quirguistão expõe mais uma decisão contraditória americana. É bom deixar claro que Obama está pagando por um erro cuja responsabilidade não é sua. Em 2005, Bakiyev chegou ao comando do país através de uma revolução que contou com a cumplicidade americana. Aí sim a base de Manas ocupa um papel central. Por conta do interesse em manter o entreposto, George W. Bush fez vista grossa para a corrupção no governo do presidente do país.
Numa decisão pragmática e controversa, a Casa Branca optou por não se envolver nos assuntos domésticos do Quirguistão. Washington precisava negociar o aluguel da base militar e conseguiu manter o controle de Manas graças a negociações com Bakiyev.
Agora, justamente quando Obama parece conseguir colocar a cabeça pra fora da água em sua estratégia internacional, há a ameaça de a decisão americana de silenciar cinco anos atrás vai voltar à tona. Seguramente, os EUA serão acusados de trabalhar com um padrão ambíguo. Se por um lado exigem eleições limpas, democracia e liberdade para opositores do regime no Irã, o mesmo não se aplica ao Quirguistão. E o presidente americano quer evitar a todo custo este desgaste.
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