Enquanto as atenções americanas estão plenamente voltadas para o combate ao Irã, os responsáveis pelas pastas de Defesa de Brasil e EUA assinaram acordo (foto) prevendo cooperação militar entre os dois países. Ao contrário dos laços que Washington mantém com a Colômbia, por exemplo, o estreitamento das relações com os americanos não prevê o acesso a bases brasileiras. Trata-se somente de intercâmbio nas áreas de segurança, treinamento e desenvolvimento. Mais do que técnica, a decisão de Brasília mostra uma prática pragmática do Itamaraty.
Há grande divergência entre Lula e Obama em relação ao modo de tratar o programa nuclear iraniano. Mas se a intenção era deixar claro que os dois países não guardam ressentimento apesar do imbróglio, acho que o recado foi bem entendido.
"Na medida em que o Brasil emerge como potência-chave, ele trata de estabelecer seu próprio curso. É como se quisesse dizer: vamos nos alinhar com o Irã, se for útil. Vamos cooperar na área de Defesa com os EUA, se for útil. Ninguém pode nos dizer que o Irã é mau, mas também não pode dizer que os americanos são maus", diz Evan Ellis, professor de estudos de segurança nacional na Universidade Nacional de Defesa, nos EUA, em entrevista ao Christian Science Monitor.
Ou seja, se o objetivo brasileiro era – e, de fato, é – apresentar-se internacionalmente como um ator independente, a meta foi atingida. Acredito também que esta seja a razão principal da insistência na legitimidade do programa nuclear iraniano.
Ninguém é bobo, e obviamente Lula e os arquitetos da política externa brasileira sabem das reais intenções de Ahmadinejad. Mas o presidente brasileiro vai tentar esticar ao máximo a corda porque o assunto é mais um dos pontos que servem aos propósitos de Brasília: o simples contraponto às sanções oferece ao país o protagonismo necessário para a reafirmação das reivindicações internacionais brasileiras que todo mundo já conhece.
Quando Lula diz que pretende conversar com Ahmadinejad e requisitar "provas" de suas reais intenções, há propósitos claros do Itamaraty: com este discurso, o governo brasileiro ganha mais tempo de exposição para suas demandas – afinal, o encontro acontece somente daqui a um mês; e cria um fato capaz de gerar enorme expectativa internacional para sua reunião com o presidente iraniano, o que aumenta ainda mais o papel de protagonismo internacional brasileiro.
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