As negociações de paz avançaram. Não se pode duvidar disso. O acordo quanto à regularidade das conversas – que passarão a ocorrer a cada 15 dias – é digno de nota. Principalmente quando as partes envolvidas chegam a tal conclusão após 20 meses de distância e silêncio absoluto.
No entanto, não é muito difícil entender o outro lado da decisão comum de Abbas e Netanyahu. O primeiro-ministro israelense consegue, assim, sobreviver politicamente sem causar o desmoronamento de sua coalizão. Ao não se comprometer com qualquer medida mais prática, não provoca a ira dos colonos e dos partidos Shas e Israel Beiteinu. Ao mesmo tempo, não fornece a seus críticos material para que eles possam reafirmar o rótulo de intransigente.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, passa por problema semelhante; com o fantasma do Hamas a lhe importunar, sabe que não pode tomar decisões importantes que agravem ainda mais a posição do grupo radical – que supera militarmente, inclusive, a Autoridade Palestina. Ao concordar com novas negociações, recebe o apoio ao menos de EUA e da comunidade internacional. É mais uma maneira de reafirmar sua posição de líder nacional palestino.
Por causa disso, as negociações atuais me parecem mais interessantes. Talvez a fragilidade política dos envolvidos tenha lhes permitido analisar a situação por um viés mais pragmático. Na prática, Netanyahu e Abbas estão do mesmo lado. Ambos lutam pela manutenção de sua legitimidade. Netanyahu em busca de espaço de atuação apesar dos colonos e do caráter bastante ideológico de sua coalizão; Abbas e o Fatah lutam contra a influência do Hamas na Cisjordânia e almejam, eventualmente, a retomada de Gaza. Autoridades israelenses e palestinas também pretendem evitar a ascensão de Irã e Hezbollah como atores legítimos do Oriente Médio.
Aliás, este parece ser um ponto nevrálgico do momento. Enquanto as conversas acontecem em Washington, o Irã quer se fazer escutar. O presidente Ahmadinejad declarou hoje, mais uma vez, que os "sionistas são racistas hipócritas que tem operado sob o pretexto de seguir os preceitos do judaísmo". O ministro das Relações Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, acusou de traição os líderes árabes que apoiam as negociações de paz. Vale lembrar que as palavras duras usadas por Teerã fazem parte do grande conflito em jogo entre os Estados sunitas e xiitas. Não por acaso, estão na capital americana o presidente egípicio, Hosni Mubarak, e o rei da Jordânia, Abdullah II – ambos assinaram acordos de paz com Israel.
O Irã tentará polarizar ainda mais as posições. Quanto mais radicalismo - no discurso e nas ações -, mais os iranianos acreditam que serão beneficiados. Afinal, quando a república islâmica se coloca na posição de antítese dos diálogos e dos supostos prejuízos que eles acarretariam aos palestinos, encontra, ao menos, um lugar para ocupar no jogo de poder regional. E, assim julgam as autoridades de Teerã, é preferível estar nesta situação a simplesmente ter de aceitar que o país se mantenha totalmente alheio às decisões tomadas pelos principais atores regionais.
No entanto, não é muito difícil entender o outro lado da decisão comum de Abbas e Netanyahu. O primeiro-ministro israelense consegue, assim, sobreviver politicamente sem causar o desmoronamento de sua coalizão. Ao não se comprometer com qualquer medida mais prática, não provoca a ira dos colonos e dos partidos Shas e Israel Beiteinu. Ao mesmo tempo, não fornece a seus críticos material para que eles possam reafirmar o rótulo de intransigente.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, passa por problema semelhante; com o fantasma do Hamas a lhe importunar, sabe que não pode tomar decisões importantes que agravem ainda mais a posição do grupo radical – que supera militarmente, inclusive, a Autoridade Palestina. Ao concordar com novas negociações, recebe o apoio ao menos de EUA e da comunidade internacional. É mais uma maneira de reafirmar sua posição de líder nacional palestino.
Por causa disso, as negociações atuais me parecem mais interessantes. Talvez a fragilidade política dos envolvidos tenha lhes permitido analisar a situação por um viés mais pragmático. Na prática, Netanyahu e Abbas estão do mesmo lado. Ambos lutam pela manutenção de sua legitimidade. Netanyahu em busca de espaço de atuação apesar dos colonos e do caráter bastante ideológico de sua coalizão; Abbas e o Fatah lutam contra a influência do Hamas na Cisjordânia e almejam, eventualmente, a retomada de Gaza. Autoridades israelenses e palestinas também pretendem evitar a ascensão de Irã e Hezbollah como atores legítimos do Oriente Médio.
Aliás, este parece ser um ponto nevrálgico do momento. Enquanto as conversas acontecem em Washington, o Irã quer se fazer escutar. O presidente Ahmadinejad declarou hoje, mais uma vez, que os "sionistas são racistas hipócritas que tem operado sob o pretexto de seguir os preceitos do judaísmo". O ministro das Relações Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, acusou de traição os líderes árabes que apoiam as negociações de paz. Vale lembrar que as palavras duras usadas por Teerã fazem parte do grande conflito em jogo entre os Estados sunitas e xiitas. Não por acaso, estão na capital americana o presidente egípicio, Hosni Mubarak, e o rei da Jordânia, Abdullah II – ambos assinaram acordos de paz com Israel.
O Irã tentará polarizar ainda mais as posições. Quanto mais radicalismo - no discurso e nas ações -, mais os iranianos acreditam que serão beneficiados. Afinal, quando a república islâmica se coloca na posição de antítese dos diálogos e dos supostos prejuízos que eles acarretariam aos palestinos, encontra, ao menos, um lugar para ocupar no jogo de poder regional. E, assim julgam as autoridades de Teerã, é preferível estar nesta situação a simplesmente ter de aceitar que o país se mantenha totalmente alheio às decisões tomadas pelos principais atores regionais.
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