Ainda há muitas informações desencontradas sobre o caos que toma conta do Equador. O que se conhece claramente apenas é o ponto de partida de tudo isso: a revogação dos benefícios concedidos a policiais e militares, além da decisão de aumentar de cinco para sete anos o período previsto para a concessão de promoções às tropas. Antes de colocar em xeque todas as democracias sul-americanas – o que seria tentador, mas equivocado –, é preciso lembrar que a posição presidencial equatoriana é historicamente instável mesmo. O país teve oito diferentes presidentes desde 1997. Curiosamente, um deles – Abdalá Bucaram – foi declarado "mentalmente incapaz" de exercer o cargo pelo Congresso.
A situação atual lembra um pouco a tentativa de golpe contra Hugo Chávez, em abril de 2002. Na ocasião, o chefe das forças armadas declarou que o presidente havia se demitido, e as emissoras de televisão privadas repercutiram com regozijo a suposta informação. Por conta disso, hoje o presidente venezuelano partiu em defesa de um de seus maiores aliados políticos. Por sua vez, o presidente do Equador, Rafael Correa, declarou estado de exceção e permitiu apenas que a TV pública continuasse a transmitir. Não é coincidência. A memória do que aconteceu na Venezuela em 2002 ainda está bastante viva.
É importante citar que o próprio Correa levantou a possibilidade de estar sendo vítima de uma tentativa de golpe. Mas é preciso deixar claro que o presidente tem a opinião pública interna a seu favor. Além disso, a OEA já declarou estar a seu lado, e a Unasul fez o mesmo.
Aliás, a situação é um importante teste para o organismo recém-criado. Não que tropas sul-americanas irão invadir o país e entrar em confronto com os militares. Mas esta perspectiva pode ser útil de forma a evitar um golpe de Estado – o que seria muito ruim para a América Latina ainda mal-resolvia com a bem-sucedida derrubada do presidente Manuel Zelaya, em Honduras
No caso do Equador, o posicionamento rápido dos atores pode ajudar a contornar este imbróglio com certa rapidez. Até porque o próprio comandante das forças armadas equatorianas, Ernesto González, disse permanecer subordinado ao presidente. O que mais me chamou a atenção nisso tudo foi a tomada do aeroporto de Quito por 150 homens da força aérea. A logística de uma operação deste tipo não é simples. E o contingente envolvido foi bastante considerável. Por isso, é preciso ficar atento às informações que surgirão em breve, mas creio ser possível dizer que, por trás deste episódio, existe mais do que simplesmente um descontentamento pontual dos militares.
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