Na quarta-feira passada, fiz uma análise sobre o ressurgimento do extremismo político europeu – aliás, mais do que reaparecer, a influência de ideias radicais tem se expandido. Não procurei provocar nenhum tipo de alarmismo - até porque o site não existe para isso. O propósito era simplesmente projetar cenários com base no que está acontecendo. Pois bem. Uma semana depois, três eventos fundamentais contribuem para reafirmar que é só uma questão de tempo para que os partidos de extrema-direita se transformem em peças políticas relevantes no continente.
No primeiro caso, este é um fato dado. A Holanda, país associado às mais diversas formas de tolerância, acabou por ceder e decidiu incluir o Partido da Liberdade, do extremista Geert Wilders, na coalizão que decidirá os rumos do país. Foi a única forma encontrada para encerrar o impasse iniciado em fevereiro, quando o gabinete liderado pelos Democratas Cristãos caiu. A partir daí, um governo provisório assumiu. Mas a situação foi resolvida. Os extremistas – que nas eleições de junho conquistaram um terço dos votos – não estarão mais à margem do sistema, mas farão parte dele.
Esta parece ser uma tendência europeia, ainda mais devido ao desencanto com os partidos de esquerda. A grande greve que mobilizou boa parte dos trabalhadores do continente nesta quarta mostra um grau de insatisfação bastante considerável. As medidas de austeridade adotadas para reduzir gastos e serviços públicos são impopulares por natureza. A taxa de desemprego atinge níveis absurdos. Na Espanha, por exemplo, chega a 20%. E não é preciso muito esforço para lembrar quem mais se aproveita deste tipo de cenário.
A extrema-direita costuma encontrar seus mais ávidos partidários em momentos de profunda fragilidade como este. A solução fácil de apontar o trabalhador estrangeiro como o responsável pela falta de emprego está em alta. Some-se a isso as novíssimas revelações de planos da al-Qaeda de voltar a atacar a Europa, e a realidade está posta. Parte importante dos cidadãos europeus hoje sonha com as ideias defendidas pelos partidos ultranacionalistas – ignorar o mundo global de trânsito livre e fluxos migratórios em nome do retorno a um status idílico de pureza nacional. Cabe lembrar que, diante disso, a própria União Europeia corre sérios riscos.
Do ponto de vista do fundamentalismo islâmico – cujos planos de novos ataques foram revelados nesta semana pelo canal de televisão Sky News –, quanto pior, melhor. Na medida em que os radicais não concebem qualquer ideia de convivência harmoniosa entre culturas distintas, a enorme população muçulmana presente nos países europeus acaba por se tornar uma excelente massa de manobra. Quando o cenário político do continente confirmar seus novos padrões, a polarização vai se acentuar ainda mais.
Ou seja, europeus irão recorrer à extrema-direita, e líderes islâmicos radicais encontrarão terreno fértil para recrutar adeptos. Este também é um dos sonhos de grupos como a al-Qaeda, que já declarou pretender vingar a expulsão dos muçulmanos da Espanha no século 15. Uma guerra de vingança travada na Europa seria vista como uma forma de fazer justiça retroativa. Pode parecer um pensamento absurdo, mas os radicais acreditam em teorias como esta.
Um comentário:
É a extrema-direita pondo as mangas de fora na Europa e a extrema-esquerda pondo as dela na América do Sul.
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