
Talvez a única semelhança entre Hamas e Yesha – a maior organização de assentados judeus na Cisjordânia – seja a vontade irresoluta de minar as tentativas de diálogo. Ambos precisam manter o atual estado de impasse para continuar a existir. Se israelenses e palestinos atingirem um acordo em Washington, ao menos a Cisjordânia dirigida pela Autoridade Palestina – formada em boa parte pelo Fatah, rival do Hamas – poderia conseguir ganhos práticos. Com os palestinos do território conseguindo desenvolvimento e um nível de vida aceitável a partir da convivência pacífica com Israel, os palestinos de Gaza poderiam reivindicar o mesmo. Seria o início do fim para o Hamas.
Também num acordo imaginário os colonos judeus teriam muito a perder. Seriam realocados para o interior das fronteiras definitivas de Israel – assim como aconteceu com os cerca de nove mil judeus retirados à força por Israel de Gaza, em 2005.
Mas talvez as semelhanças possam trazer algo de positivo. Por exemplo, Obama, Netanyahu e Abbas vivem momentos relativamente parecidos. Obama precisa de aprovação interna. Netanyhau e Abbas precisam lutar contra radicais que buscam minar seus governos. Um acordo favorável aos palestinos alcançado nos EUA poderia desestabilizar o Hamas e vislumbrar a retomada de Gaza pela Autoridade Palestina.
Do ponto de vista israelense, qualquer acordo derrubará Netanyahu, uma vez que a coalizão que sustenta seu governo é formada por partidos como Shas, Israel Beiteinu e Likud. Ao menos Shas e Israel Beiteinu se opõem ao fim das colônias na Cisjordânia como princípio.
Porém, se Bibi conseguir apresentar uma solução justa e definitiva para o conflito com os palestinos, poderia concorrer e vencer num eventual novo pleito. Com o amplo apoio da população israelense, uma nova coalizão de partidos levaria Netanyahu ao cargo. Por que não? Quem imaginaria, por exemplo, que o trabalhista Ehud Barak seria ministro da Defesa num governo do Likud?
Além disso, o próprio Netanyhu gostaria pessoalmente de incluir seu nome na história de Israel com um acordo. Seria o ponto mais alto de sua biografia e ele também se tornaria o mais importante membro de um dos mais tradicionais clãs políticos do país.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, superaria ou ao menos se igualaria a Arafat. Ao mesmo tempo, quebraria não apenas o Hamas, mas também as influências de Hezbollah e Irã na vida e nas decisões políticas palestinas. Sem falar em Obama, que poderia usar o trunfo nas eleições legislativas de novembro, ganhar a reeleição em 2012 e, ainda por cima, roubar o imaginário construído em torno de seu desafeto político Bill Clinton. Talvez, a vaidade dos três líderes envolvidos nesta rodada de negociações possa representar a grande vantagem deste momento que se pretende histórico.
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