O ex-presidente da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei (foto)retornou ao Egito em fevereiro deste ano. Desde então, tem mobilizado a incipiente oposição ao governo de Hosni Mubarak - que controla o país há 29 anos. Agora, ElBaradei fez sua aposta política mais alta ao convocar o boicote geral às eleições parlamentares de novembro próximo. Amplamente identificado com uma parcela significativa da juventude egípcia, o comunicado foi publicado em sua página do Twitter:
"O boicote total das eleições e a assinatura da petição são os primeiros passos para desmascarar a falsa democracia. A participação (no pleito) seria contrária ao interesse nacional", escreveu.
A petição ao que o post se refere exige mudanças na constituição do Egito, como a restrição legal a candidatos presidenciais independentes. ElBaradei pretende disputar as eleições presidenciais no ano que vem justamente como candidato independente.
Toda esta agitação política afeta o jogo geopolítico regional. Como se sabe, Mubarak é um dos principais aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio - aliás, ao lado da parceria declarada com a Arábia Saudita, o apoio de Washington ao presidente Mubarak, acusado de fraudar sucessivas disputas eleitorais para permanecer no cargo, é um dos mais flagrantes "telhados de vidro" no discurso dos EUA de exportação da democracia.
O governo do Cairo também é uma importante peça do confronto entre sunitas - apoiados pelos EUA - e xiitas - comandados pelo Irã - que se avizinha. Bem ou mal, Mubarak segue o jogo da Casa Branca e é recompensado por isso com dinheiro e prestígio. Nunca é demais lembrar que foi na capital do país que o presidente Obama fez um dos mais importantes discursos conciliatórios com o mundo islâmico, em junho de 2009. Para completar, o governo egípico mantém um acordo de paz com Israel, além de coibir as ações de grupos radicais em seu território.
Por sinal, este é um aspecto importante. A Irmandade Muçulmana representa, no Egito, a mais ferrenha oposição ao governo Mubarak. Este mesmo grupo é a base de formação do Hamas, nos territórios palestinos. E é com a Fraternidade Muçulmana que ElBaradei não descarta se aliar para derrubar Mubarak. Ninguém sabe ainda se a relação entre eles é meramente pragmática para conseguir assumir o governo.
Mas, sem a menor dúvida, isso já causa um problema para a estratégia regional americana. Afinal, é bem provável que ElBaradei não concorde em seguir as diretrizes da Casa Branca num eventual governo seu. Aliás, qual seria o papel da Irmandade Muçulmana neste caso?
O que se sabe é que os EUA estarão numa tremenda sinuca: se ElBaradei de fato se transformar numa liderança política legítima no Egito, Washington não poderá ignorar as novas regras do jogo. O eixo sunita formado por Egito, Arábia Saudita, Jordânia e os Estados menores do Golfo Pérsico terá de ser revisto. Com a Irmandade Muçulmana na posição de situação, não é impossível imaginar que o Egito decida não facilitar movimentações militares ou ceder bases ou espaço aéreo num eventual ataque contras as instalações nucleares iranianas.
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