segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Metas do milênio da ONU: Brasil sai na frente

Mais uma vez, os países-membros das Nações Unidas estão reunidos em Nova Iorque. O encontro é motivado pela revisão das metas de desenvolvimento do milênio, estabelecidas em 2000. Como boa parte das boas intenções costuma se restringir a cerimônias lacrimosas e belos discursos, é muito pouco provável que as ambições de melhorar a vida da população mais pobre do planeta sejam alcançadas.

Os objetivos de dez anos atrás eram bastante louváveis: até 2015, a educação primária deveria ser universal, a diferença de gênero deixaria de ser fator de preconceito, a mortalidade infantil seria reduzida drasticamente e doenças como aids e malária sofreriam combate sério. Nada disso vai acontecer, como se pode imaginar. Em cinco anos, a África – continente mais atingido pelo descaso absoluto dos países desenvolvidos – estará ainda pior, como mostram as estatísticas; a população pobre deve subir de 35% para 40%. O crescimento econômico médio – que entre 2006 e 2008 chegou a 6% – já registrou declínio de quase quatro pontos no ano passado.

De fato, mesmo a ONU não está muito preocupada com isso. Pelo menos não da maneira altruísta que anuncia. Cada vez mais relegada a segundo plano em questões fundamentais à sua existência – como seu papel preponderante na resolução de conflitos internacionais e até mesmo em assuntos contemporâneos relevantes, como meio ambiente – a organização se agarra às metas do milênio num esforço para se reinventar ou ao menos continuar a justificar o orçamento anual com verniz de importância.

Na prática, o palanque onde líderes mundiais discursam se transformou numa espécie de palco de mutação de personalidades. É lá que Ahmadinejad clama por mais atenção aos pobres do planeta, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, defende a aplicação de um imposto sobre as transações financeiras para financiar a execução urgente das metas do milênio – as mesmas que os países europeus ignoraram durante os últimos dez anos.

Longe de qualquer patriotada, é válido dizer que o Brasil talvez seja um dos poucos que levaram a sério as propostas do ano 2000. Neste encontro da ONU, a ministra Márcia Lopes – da pasta do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – vai mostrar como os programas de transferência de renda conseguiram tirar 27,3 milhões de brasileiros da faixa da pobreza extrema. O número é o equivalente a duas vezes a população da Holanda.

Segundo a ONG ActionAid, que avalia o desempenho mundial no combate à pobreza, o Brasil conseguiu reduzir pela metade a fome no país. Isso já em 2006, nove anos antes do prazo estabelecido pela ONU.

Ainda de acordo com a instituição, o Brasil lidera pelo segundo ano consecutivo o ranking que mede o progresso de países em desenvolvimento na luta contra a pobreza. A partir disso tudo, o discurso da próxima quinta-feira do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, vai reivindicar mais uma vez que o país obtenha mais importância nas Nações Unidas – inclusive no Conselho de Segurança. São temas desconexos, mas que acabam por se complementar.

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